21 dez

Turbilhão político torna Bolívia pauta central do debate em espanhol no Twitter

Em duas semanas, debate sobre a crise institucional no país acumula 23,2milhões de menções; ápice de discussão no Twitter ocorreu na noite de domingo

Atualizado em 19 de fevereiro, 2020 às 11:20 am

A partir de 07 de novembro, a Bolívia rapidamente deixou de exercer papel periférico no debate político das redes sociais na América Latina — inclusive por conta dos protestos no Chile e das eleições gerais na Argentina — para assumir protagonismo internacional em função da grave situação institucional por que passa. Com, inicialmente, a convocação de novas eleições pelo então presidente Evo Morales e, logo depois, a renúncia de Evo e o exílio no México, expandiu-se o interesse no país, com polarizada discussão no Twitter — que, até as 12h (de Brasília) desta quinta-feira, 21 de novembro, somava 23,2 milhões de postagens (apenas) em espanhol em dezenas de países em referência ao embate entre o ex-presidente e opositores, incluindo-se menções à autoproclamada substituta, Jeanine Áñez.

Volume de menções ao debate sobre a Bolívia em espanhol e português
Período de análise: 0h de 7 de novembro às 12h de 21 de novembro

Há protestos contrários e favoráveis a Morales e à realização de novas eleições no país desde outubro, mas foi a partir do fim da noite de sábado (09) que se intensificou, abruptamente, o engajamento político sobre a Bolívia nas redes sociais. Na manhã de domingo (10), a OEA (Organização dos Estados Americanos) divulgou publicamente o apoio à realização de novas eleições gerais, e, em poucas horas, com a escalada de protestos pelo país, Evo viu-se forçado a renunciar, sem o apoio de forças policiais e militares. 

Entre as 22h de domingo e a 0h de segunda (11), chegou-se ao pico de menções no Twitter de 6,4 mil novas postagens por minuto, e desde então mantém-se com amplo impacto a discussão na esfera virtual: no domingo, foram mais de 4,7 milhões de tuítes em espanhol no mundo inteiro sobre a Bolívia, e, na segunda, 3,3 milhões. Desde então, diariamente há pelo menos 1 milhão de novos tuítes relacionados à situação política.

Debate externo supera discussões dentro da Bolívia

Com população pequena e menor uso regular de internet e de redes sociais que boa parte de seus vizinhos de América Latina, a Bolívia responde por apenas 5,4% do volume de menções sobre a própria situação política — o equivalente a 1,25 milhão de tuítes (volume, ainda assim, muito elevado). O país que mais participa da discussão é a Argentina (20,5%, ou 4,8 milhões), cujo próprio processo eleitoral recente já mantinha o país em expressiva atividade no Twitter. O presidente eleito, Alberto Fernández, declarou publicamente apoio a Morales — que conta, ainda, com a defesa digital de Nicolás Maduro, da Venezuela, segundo país com maior presença no debate sobre a Bolívia: 18,9% (4,39 milhões).

Seguem-se, dentre os países de língua espanhola, com relevante participação percentual no Twitter o México — que recebeu Evo com asilado político —, com o equivalente a 16,8% dos tuítes identificados (3,9 milhões de postagens); a Colômbia, com percentual levemente superior ao da própria Bolívia (6,3%); e a Espanha (5,6%, ou 1,3 milhão de publicações). Notável ainda é o fato de que a palavra “golpe” é a 3ª com maior volume de citações, presente em 20% dos tuítes em quaisquer países.

Facebook: 129,8 mil links compartilhados e 20,5 milhões de interações

Internacionalmente, no Facebook o impacto se desdobrou por dezenas de países, com 129,8 mil links sobre a conjuntura política da Bolívia compartilhados em pelo menos seis idiomas — os links de sites e portais em espanhol dominam o volume de engajamento, principalmente a partir de veículos de comunicação do México. Os 280 links de maior repercussão na rede social, somados, obtiveram 20,5 milhões de interações (somadas reações, comentários e compartilhamentos). O link com maior relevância, até o momento, é de um site de conteúdo noticioso geral sem domicílio específico, mas que aborda América Latina e política internacional e não está entre os veículos tradicionais das imprensas locais dos países da região: em artigo sobre a expulsão de cubanos e “chavistas” da Bolívia, somou 467,6 mil interações.

No Brasil, 1,45 milhão de menções e 30% de alusão a “golpe”

Em língua portuguesa no Brasil, a proporção de perfis que rejeitam a saída de Evo Morales e atribuem a mudança presidencial no país a um golpe é semelhante à vista no debate em espanhol: 30% das 1,45 milhão de menções identificadas no país citam a palavra — e o principal influenciador é o perfil oficial do ex-presidente Lula. Já menções a fraudes eleitorais no país — conforme repercutido pelo presidente Jair Bolsonaro — aparecem em 8% das postagens. É em Brasília, inclusive, que se concentra a maior parte das publicações sobre a Bolívia, com o equivalente a 20% das postagens brasileiras localizadas no Distrito Federal.

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.