Tiros de Roberto Jefferson à PF impulsionam debate sobre segurança e motivam críticas a Bolsonaro
Atualizado em 27 de outubro, 2022 às 2:22 pm
- Silêncio da base governista marca o debate no Twitter, pautado por críticas ao presidente e ao tratamento amigável de Roberto Jefferson pela Polícia Federal;
- No Telegram, há uma ausência de alinhamento sobre o episódio. Enquanto algumas alas bolsonaristas comemoram a prisão de Jefferson, associando-o a Lula, outros classificam o ex-deputado como um “guerreiro injustiçado”;
- A base governista procura desvincular Bolsonaro do episódio, afastando o presidente da imagem de Roberto Jefferson. Ao mesmo tempo, são mobilizadas críticas à “tirania” da Justiça;
- Oposição se destaca em interações no Facebook, utilizando o episódio para embasar campanha negativa contra Bolsonaro.
O episódio de resistência de Roberto Jefferson ao cumprimento de ordem da Polícia Federal gerou um aumento expressivo no debate sobre Segurança, com mais de 1,4 milhão de menções no Twitter entre 0h de 23 de outubro e 12h ed 24 de outubro. É o que mostra monitoramento realizado pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI), que também identificou a forte associação feita entre o episódio e o presidente Jair Bolsonaro – mencionado em mais de 572 mil tuítes. No Facebook, o debate foi dominado pela esquerda, concentrando 38,7% das páginas e grupos públicos que compartilharam links sobre o episódio.
Mapa de interações no Facebook
Período: das 0h de 23 de outubro às 12h de 24 de outubro
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Oposição a Bolsonaro (Vermelho) ‒ 38,71% dos perfis
Grupo de páginas e perfis de esquerda e centro, que se reúnem a partir de uma forte oposição a Bolsonaro. Após o episódio envolvendo Roberto Jefferson, o cluster se concentrou no compartilhamento de links que vinculam o ex-deputado ao presidente. Seja ironizando a declaração de Bolsonaro sobre não possuir nenhuma foto com Jefferson, seja alimentando a teoria de que a ação foi planejada junto ao presidente, o grupo se volta à mobilização eleitoral do episódio.
Base de apoio de Bolsonaro (Azul) ‒ 22,85% dos perfis
Base governista e de apoio a Bolsonaro, na qual se destacam links de matérias jornalísticas com atualizações e detalhes da prisão de Roberto Jefferson. O compartilhamento destas notícias conecta, em alguma medida, perfis do cluster azul e vermelho. Ao mesmo tempo, tais grupos se distanciam, na medida em que a base governista repercute links nos quais Jefferson é alçado ao posto de sujeito que estaria resistindo à tirania. Assim, ainda que a violência do ex-deputado seja condenada, figuras como Carla Zambelli também criticam os supostos “atos inconstitucionais” da justiça. De modo mais lateral, há uma mobilização para vincular Jefferson e Lula a partir do mensalão.
Grupos e páginas de compra e venda (Verde) ‒ 2,88% dos perfis
Grupo formado por páginas e grupos de compra e venda, que apresenta ligações com o cluster vermelho ao vincular Bolsonaro a Roberto Jefferson. De modo mais lateral, o conjunto também estabelece algumas conexões com a base governista ao compartilhar links da Jovem Pan. Esta dubiedade sugere uma atuação menos coesa do grupo, que se mostrou interessado, sobretudo, na reação violenta do ex-deputado contra os agentes da PF.
Notícias locais (Rosa) ‒ 1,48% dos perfis
Base que se assemelha ao cluster verde ao apresentar conexões com diferentes campos políticos. Isso se justifica pois o grupo repercute uma série de notícias com atualizações sobre o caso de Roberto Jefferson. Lateralmente, algumas ligações com páginas e perfis bolsonaristas também são observadas, aproximando Jefferson e Lula ou ainda compartilhando a opinião de aliados do presidente, como Celina Leão.
Evolução de menções a temas no Twitter
Período: das 0h de 23 de outubro às 12h de 24 de outubro
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Enquanto outros temas mantiveram um padrão de ocorrências esperado, a discussão sobre segurança apresentou um alto pico na tarde de domingo (23), justificado, sobretudo, pelo episódio envolvendo Roberto Jefferson;
- Com forte atuação da oposição e um certo silêncio da base governista, a discussão evidenciou os tiros de Jefferson contra agentes da PF como um ato injustificável. Entende-se que a atitude do ex-deputado explicita o suposto caráter violento dos apoiadores do presidente Bolsonaro, além de uma certa incoerência por se tratar de um ataque contra policiais;
- Assim como cresceu rapidamente, a discussão sobre segurança logo desacelerou. Após o pico, algumas narrativas se mantiveram no debate, com fortes críticas ao tratamento amigável da PF para com Jefferson. Episódios de violência policial contra pessoas negras e pobres foram rememorados para embasar tais críticas;
- Além disso, Bolsonaro segue sendo vinculado ao ex-deputado, com comentários que acionam o caso para indicar os supostos perigos do bolsonarismo.
Nuvem de palavras do debate sobre Segurança no Twitter
Período: das 0h de 23 de outubro às 12h de 24 de outubro
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- O envolvimento do Ministro da Justiça, Anderson Torres, no episódio com Roberto Jefferson gerou uma série de críticas a Bolsonaro. Entende-se que o presidente estaria sendo incoerente ao oferecer “tratamento privilegiado” a um “criminoso”, sobretudo, por seu lema “bandido bom é bandido morto”;
- Após a base governista tentar desvincular as imagens de Bolsonaro e Jefferson, a oposição reagiu, compartilhando intensamente a expressão “Roberto Jefferson é Bolsonaro” e indicando que o ex-deputado seria coordenador de campanha do presidente;
- A ação do ex-deputado contra os agentes da PF é acionada como parte de uma campanha negativa contra Bolsonaro, de modo a ressaltar o caráter violento de alguns apoiadores do presidente para afirmar que “o bolsonarismo mata”;
- Os xingamentos e ataques de Jefferson à Ministra Cármen Lúcia repercutem menos do que a ação contra policiais. Aqui, destacam-se manifestações de apoio à Ministra, além de hipóteses de que o ataque teria sido combinado com Bolsonaro;
- Apoiadores do presidente apresentam uma incidência na discussão que cita a Ministra, se concentrando em compartilhar tuíte de Jair Bolsonaro sobre o caso. A base, no entanto, não saiu em defesa de Jefferson – o que é entendido pela oposição como uma “traição” contra o ex-deputado.
Telegram
Exemplos da discussão no Telegram
Período: das 0h de 23 de outubro às 12h de 24 de outubro
Fonte: Telegram | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- A base evita falar sobre o episódio em si, focando em como a esquerda e a “milícia digital petista” estariam supostamente instrumentalizando o caso para retirar votos de Bolsonaro;
- Há uma clara tentativa de desassociar Bolsonaro da imagem de Roberto Jefferson, com instruções para comparar o episódio com supostas mortes causadas pelo MST, relacionando o Movimento a Lula. Indica-se que Jefferson tentou se aproximar de Bolsonaro, mas que o presidente teria se mantido distante.
Exemplos da discussão no Telegram
Período: das 0h de 23 de outubro às 12h de 24 de outubro
Fonte: Telegram | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Em alguns momentos, a prisão do ex-deputado é comemorada como um indício de que a corrupção estaria sendo “varrida” do Brasil. Nesse sentido, Jefferson chega a ser comparado com Lula, na medida em que, sob este ponto de vista, ambos seriam criminosos e “companheiros de mensalão”;
- No entanto, não há consenso sobre isso, com outros bolsonaristas afirmando que comemorar a prisão de Jefferson seria estar ao lado de Alexandre de Moraes. De modo mais lateral, o ex-deputado é comparado a Daniel Silveira, com ambos sendo classificados como “injustiçados” e “guerreiros”. Percebe-se, com isso, uma ausência de alinhamento sobre o episódio.