Robôs atuam no debate sobre as eleições do Rio, e Paes e Martha Rocha são os principais focos de ataques digitais
Atualizado em 13 de novembro, 2020 às 3:09 pm
- Debate no Twitter entre 01 e 08 de novembro identifica 124,9 mil menções sobre as eleições no Rio, com 76 perfis automatizados, responsáveis por 1.918 retuítes. Eduardo Paes é o principal alvo de mensagens negativas, citado em 44 publicações automatizadas e foco de 30% dos ataques (orgânicos e por robôs) na plataforma no debate geral;
- Principal grupo a utilizar automatização é a base à esquerda, de alinhamento às campanhas de Benedita da Silva e Renata Souza, com 873 publicações suspeitas. O grupo, porém, dá maior ênfase a conteúdos positivos sobre Benedita;
- Núcleo de apoio a Martha Rocha também faz uso de contas automatizadas para repercutir mensagens (positivas e negativas). O grupo responde por 356 conteúdos, também com críticas a Paes e a Crivella, mas principalmente com a replicação de postagens de contas oficiais e de elogios a Martha — também vítima de ataques por outras bases, com 8% dos ataques políticos na discussão;
Desde 2014, regularmente às vésperas de eleições emergem no Twitter estruturas específicas de desinformação para promover candidaturas — e, mais importante, construir ataques a rivais. Desta vez, embora com menor volume do que os observados durante o ciclo eleitoral de 2018, na disputa do Rio de Janeiro novamente há perfis com indícios de automatização (robôs, ou bots) atuando na plataforma. Monitoramento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas detectou, entre 01 e 08 de novembro, 76 contas com ação automatizada, responsáveis por 1.918 retuítes, em uma base geral de 124,9 mil postagens. E o líder atual das pesquisas de intenção de voto, Eduardo Paes, é o principal foco, seguido por Martha Rocha, que disputa vaga no segundo turno contra Marcelo Crivella.
Ao longo dos últimos anos, a atividade automatizada de desinformação adaptou-se a processos de detecção e adquiriu sofisticação, dificultando a mensuração de contas que apresentem comportamento não humano, como a reprodução acelerada de mensagens e o uso de softwares de publicação automática não validados. Desta vez, no cenário do Rio, são grupos de defesa de candidaturas à esquerda os principais responsáveis pela ação de perfis suspeitos — o que não necessariamente implica em responsabilidade das campanhas ou candidatos pela atividade desses perfis. A base de debate favorável à campanha de Benedita da Silva e Renata Souza, por exemplo, agrega 712 interações, e o núcleo pró-Martha Rocha agrega 356. A base à direita, sobretudo de divulgação da campanha de Crivella, pouco atua, com somente 39 interações com automatização.
Eduardo Paes é citado diretamente, de forma negativa, em 44 publicações replicadas por robôs (em especial a partir do grupo à centro-esquerda), enquanto Martha é até mais citada em postagens automatizadas (174 vezes), mas principalmente para a promoção de sua candidatura. A partir da automatização e da repercussão orgânica de ataques — em especial a partir da base de alinhamento ao governo federal e a Crivella —, Paes é vítima de 30% das publicações de conotação negativa na rede, bem à frente da segunda colocada, Martha Rocha, vítima de 8% das publicações críticas e principalmente por bases à esquerda. Já Benedita aparece em 873 publicações de perfis com atividade semelhante à de robôs, com o uso de contas da base à esquerda para retuitar postagens de sua conta oficial, defender a candidata e replicar conteúdos, como pesquisas eleitorais.
Ataques e mensagens negativas com automatização nas eleições do Rio de Janeiro
Data de análise: 01 a 08 de novembro
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
No mapa de interações abaixo, mostra-se, em pontos pretos, a localização dos perfis que apresentam comportamento suspeito no Twitter. São poucas contas atualmente em atividade, e o grupo azul, pró-Crivella (e, em menor escala, Luiz Lima), é quem mais tem perfis, mas com baixo volume de interações produzidas. Enquanto isso, a base pró-Benedita tem poucas contas, mas que fazem alto número de postagens. Vale destacar que outros perfis aparecem também de forma esparsa na discussão, sem participar de nenhuma das redes principais de debate, e sobretudo enfatizam menções a Paes.
A baixa participação de robôs no debate municipal sobre o Rio de Janeiro, até o momento, demarca nítido contraste com o 1o turno de eleições anteriores, em que a automatização se apresentava desde o início como ferramenta central das atividades políticas. Neste ano, até pela maior fragmentação das campanhas em diferentes plataformas digitais, com o WhatsApp e o Youtube em maior proeminência, as estratégias acompanham mudanças no cenário virtual, e a maior parte dos ataques é organizada a partir de perfis que, pelo menos sob comportamento, não indicam diretamente automatização, mas continuam com impacto e com relevância na execução de ataques virtuais. No entanto, é de se esperar que, nesta reta final de primeiro turno, haja também o impulsionamento de maior quantidade de robôs, para a construção de capilaridade de rejeição política no Twitter. Como ponto de atenção, é possível que uma ação mais ampla possa estar sendo guardada para o 2o turno, quando o processo de escolha efetivamente se decidirá, em especial onde houver grande polarização em campos opostos já prenunciando 2022.
Em São Paulo, ação de contas automatizadas foca em crítica a Covas e defesa de Russomanno
Em São Paulo, o cenário é bem semelhante ao do Rio de Janeiro. Com um número maior de contas identificadas, são 133 perfis automatizados responsáveis por 2217 retweets. Também de maneira semelhante, as ações coordenadas são realizadas por perfis que não indicam diretamente automatização, mas ainda assim têm impacto.
O grupo azul é o que tem o maior índice de participação de bots, e tem como principal alvo o candidato do PSDB Bruno Covas. As postagens buscam associar negativamente a candidatura do atual prefeito ao governador João Dória. Esse mesmo grupo tenta, também, alavancar a candidatura de Russomanno, com mensagens elogiosas ao candidato.
Já as contas automatizadas identificadas no grupo vermelho concentram- se em amplificar o alcance orgânico já presente nas publicações de apoio ao candidato Guilherme Boulos, sem identificação partidário ou alvo de ataque definido, para além de chacotas com o candidato Arthur do Val, conhecido nas redes sociais como “Mamãe Falei”.