14 out

Religião se destaca no debate eleitoral após presidente Bolsonaro visitar a Basílica de Aparecida

Atualizado em 18 de outubro, 2022 às 5:09 pm

  • O comportamento de apoiadores do presidente durante as celebrações da padroeira do Brasil renderam críticas de setores progressistas, levando o tema a ultrapassar segurança e terminar a semana com o maior volume de menções no debate eleitoral;
  • Declarações da senadora eleita Damares Alves, também impulsionaram o debate sobre pedofilia, com predominio de mensagens favoráveis a ex-ministra de Bolsonaro;

O debate moral e a disputa de fake news seguem dominando o segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Durante a segunda semana de disputa, as menções à religião entre os dias 07 e 13 de outubro saíram de 100 mil para 400 mil, ultrapassando as menções a segurança, tema que protagonizou o primeiro turno do pleito. Conteúdos sobre pedofilia também tiveram crescimento expressivo, saindo de 2,8 mil menções para 76 mil ao final da semana.

Em religião, tema destaque nos últimos dias, o campo progressista foi predominante, mobilizando o recente episódio na Basílica de Aparecida para criticar o comportamento de bolsonaristas. Fortemente vinculada ao cristianismo, a base do presidente foi classificada como incoerente ao atacar religiosos e funcionários da TV Aparecida. A mobilização dos progressistas pode ser entendida como uma estratégia para distanciar Bolsonaro do eleitorado católico e evangélico. Já em pedofilia, a base bolsonarista se articulou contra o pedido de cassação de Damares Alves a partir de narrativa que associa a esquerda a um posicionamento favorável ao abuso sexual contra menores. Os apoiadores do presidente Bolsonaro também divulgaram informações não checadas que ligam Lula a pedofilia.

Temas em crescimento relacionados a eleições no Twitter
Período: de 07 a 13 de outubro


Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • O debate sobre religião ultrapassou as menções relacionadas à segurança e teve o maior pico da semana no debate sobre eleições. O aumento de conteúdos sobre o tema tem relação com a ida do presidente Jair Bolsonaro à Basílica de Aparecida, para celebração da padroeira do Brasil. O comportamento dos apoiadores do presidente e a fala do arcebispo – vaiada por bolsonaristas – repercutiram de forma negativa para o presidente;
  • Ainda que tenha tido menor volume que religião, o debate sobre segurança também esteve em alta, especialmente apoiadores de Bolsonaro circularem uma foto do ex-presidente Lula visitando o Complexo do Alemão com um boné escrito “CPX”, afirmando que a sigla está relacionada ao Comando Vermelho e que Lula fez campanha na região porque tem relação com o crime. O debate foi inflado tanto por bolsonaristas divulgando a imagem, quando por lulistas desmentindo o caso;
  • A pedofilia terminou a semana entre os cinco temas com maior volume de menções após a ex-ministra, Damares Alves, detalhar um suposto esquema de abuso infantil na Ilha de Marajó para uma plateia com crianças. O caso suscitou pedidos de investigação contra a senadora eleita, mas também mobilizou apoiadores que procuraram notícias para corroborar com o caso contado por Damares e afirmaram ser injusto critica-la por denunciar a pedofilia. Também é possível observar o esforço para ligar o ex-presidente Lula a casos de pedofilia e um conteúdo afirmando que “Lula estuprou um adolescente quando foi preso em 1980”;

 

Associação entre presidenciáveis e menções a religião no Twitter
Período: de 07 a 13 de outubro


Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Comparando as menções aos dois presidenciáveis no debate sobre religião, podemos observar um grande distanciamento em termos de volume a partir do feriado de 12 de outubro, quando o presidente Bolsonaro visitou a Basílica de Aparecida;
  • Além de criticarem o comportamento de apoiadores e as vaias ao arcebispo, usuários progressistas também destacaram o sermão do celebrante, que afirmou que a igreja não é lugar de pedir votos. Os críticos afirmaram que o presidente Bolsonaro nunca esteve ao lado da Igreja Católica e que o comportamento do presidente não é compatível com o de um cristão;
  • Entre as associações do ex-presidente Lula ao debate sobre religião, se destacam apoiadores do petista afirmando que católicos votam em Lula e que ele é o candidato que respeita todas as religiões. No debate também é possível observar usuários desmentindo a informação de que Lula fecharia igrejas, enquanto outros associam o petista ao satanismo e não se importa com os cristãos;

 

Nuvem de palavras com termos mais associados a religião no Twitter
Período: de 07 a 13 de outubro

Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

  • Após polêmicas em evento religioso em frente à Basílica de Aparecida, uma série de críticas foram feitas a Bolsonaro e, sobretudo, aos seus apoiadores. Entende-se que a base do presidente teria se comportado de modo incoerente ao que prega a doutrina cristã. O consumo de bebidas alcoólicas no templo, as vaias contra o padre que falou sobre a fome e as agressões contra funcionários da TV Aparecida foram os tópicos mais evidenciados em tais críticas;
  • A partir disso, iniciou-se um movimento de afirmar que “Católico não vota em Jair”. A mobilização, no entanto, circulou apenas entre opositores do presidente, que utilizaram o episódio para criticar a sua base, procurando ainda “arrancar a máscara do falso messias”. Percebe-se um tom de indignação em tais comentários, que não conseguem compreender o apoio de religiosos a Bolsonaro;
  • Opositores do presidente também fizeram comparações entre o episódio e a já conhecida informação de que Lula fecharia igrejas, caso eleito. Há, com isso, um intento de aproximar o petista do tema religioso, desmentindo tal informação fraudulenta e, simultaneamente, apresentando Bolsonaro como um “falso cristão”;
  • Nota-se que, com o recente episódio, o campo progressista passou a disputar mais o debate religioso no Twitter. Geralmente pautada por críticas a Lula e pela noção de que o PT seria inimigo dos cristãos, a discussão adquiriu um outro tom, com comentários que invertem as narrativas, alegando, por exemplo, que o “bolsonarismo não é de Deus”.

Nuvem de palavras com termos mais associados a pedofilia no Twitter
Período: de 07 a 13 de outubro

Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A base bolsonarista mobilizou o pedido de cassação à senadora eleita Damares Alves contra o campo progressista a partir do argumento de que a esquerda seria favorável à pedofilia e/ou inclinada à sua relativização;
  • Três tuítes de atores medulares do bolsonarismo, viralizados em sequência, centralizaram o debate e contribuíram para encorpar essa narrativa nas redes;
  • O primeiro deles, do presidente Jair Bolsonaro, associou a soltura de um ator acusado de estupro de vulnerável no Dia das Crianças aos “ataques” dirigidos a Damares na forma de um abaixo-assinado que pede a sua cassação, que foi endossado por personalidades da mídia e artistas;
  • Menos de 15 minutos depois, viralizou um outro tuíte em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro sugere que seria do interesse da esquerda cassar uma senadora que se pautaria pela luta contra a pedofilia;
  • Após algumas horas, Damares ampliou a narrativa com mais um tuíte viral: além da esquerda per se, atores, apresentadores e funcionários associados à Rede Globo seriam a favor da pedofilia e do crime organizado, uma vez que ela seria uma agente importante no combate à exploração infantil e parte deles, como Xuxa, havia se manifestado a favor de sua cassação;
  • Já no campo progressista, teve repercussão tuíte em que Ana Estela Haddad cobra explicação de Damares por ter escondido denúncias sobre abusos sexuais contra crianças, caso haja provas, e afirmou que seria problemático se a ex-ministra tivesse mentido sobre o assunto tendo em vista fins eleitorais.