Proposta de arcabouço fiscal anunciada por Fernando Haddad eleva debate sobre economia e mobiliza críticas e elogios
Atualizado em 5 de abril, 2023 às 11:44 am
- Repercussão da apresentação do arcabouço fiscal impulsiona discussão sobre economia, que supera o debate sobre segurança;
- Sem críticas especializadas, o tom opinativo foi acionado por atores partidarizados. Entre opositores, a proposta foi alvo de descrédito e desconfiança à direita, sendo taxada de “neoliberal” e “sufocante” por setores da esquerda e centro-esquerda;
- Entre os ministros, Flávio Dino mantém destaque desde o início do governo. A participação do ministro na CCJ da Câmara rendeu elogios por sua postura considerada combativa.
A apresentação da proposta de arcabouço fiscal de Fernando Haddad impulsionou o debate sobre economia, que dividiu com pautas de segurança o destaque no período analisado. Com cobertura midiática positiva, elogios entre governistas e críticas partidarizadas, a recepção foi marcada por avaliações pouco específicas entre opositores à direita e críticas à esquerda e centro-esquerda. É o que mostra um levantamento da Escola de Comunicação da FGV, que avaliou a repercussão do tema entre os dias 25 e 30 de março no Twitter.
A discussão orbita majoritariamente em torno de atores politicamente posicionados e que adotam perspectivas críticas à proposta anunciada. À direita, há predomínio de críticas pouco específicas e marcadas pela desconfiança generalizada em relação aos rumos do governo e ao cumprimento das metas anunciadas, com ocasional veiculação de avaliações negativas de economistas. Críticas também repercutem entre o campo progressista na medida em que atores à esquerda e centro-esquerda atribuem a proposta ao domínio da austeridade fiscal e da orientação neoliberal. Parlamentares de ambos os campos se destacam na emissão de avaliações negativas pautadas nos argumentos ressaltados.
Evolução de temas relacionados ao governo Lula no Twitter
Período: de 25 a 30 de março
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Os debates sobre segurança e economia ficaram em destaque no período. No eixo da segurança, destacou-se a continuidade da repercussão negativa das declarações de Lula sobre o senador Sergio Moro (UNIÃO-PR) e a operação da Polícia Federal contra o ataque planejado pelo PCC. Neste caso, o debate é protagonizado por críticos ao governo;
- No dia 30 de março, as menções à apresentação do arcabouço fiscal impulsionaram o debate sobre economia. O acontecimento levou a área a consolidar uma tendência de alta e superar o debate sobre segurança;
- Em tom pouco opinativo, mas inclinado à criação de uma percepção potencialmente favorável, notícias relacionadas à apresentação da proposta econômica para os líderes do Congresso Nacional e em coletiva de imprensa aberta se destacaram;
- Por sua vez, a repercussão nos campos políticos foi marcada pela desconfiança entre críticos de direita, que sustentam a avaliação negativa em função da baixa expectativa quando ao cumprimento das metas e de ocasionais críticas especializadas em relação ao que foi apresentado. Menções aos baixos níveis da bolsa de valores também aparecem;
- Entre progressistas, a recepção positiva de usuários mais alinhados ao governo foi contrabalanceada por críticas entre esquerda e centro-esquerda, que apontaram para componentes “neoliberalistas” e “sufocantes” no arcabouço. Nessa crítica progressista, ficam em evidência tuítes de figuras como o deputado federal Glauber Rocha (PSOL-RJ) e o influenciador Jones Manoel. Usuários identificados como apoiadores de Ciro Gomes também reforçam críticas, bem como o deputado do PDT-SP, Antonio Neto;
- Ainda no debate sobre economia, temas relacionados às críticas de governistas ao Banco Central continuam a repercutir. Declarações anteriores do ministro Fernando Haddad sobre o marco fiscal, bem como especulações sobre a perspectiva da taxação em produtos importados da China, seguiram em circulação na plataforma.
Evolução dos ministros do governo Lula no Twitter
Período: de 25 a 30 de março
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Conforme tendência expressa desde o início do ano, o ministro Flávio Dino segue dominando a discussão geral sobre os ministros e ministras do governo Lula. No período de análise, o ministro foi frequentemente associado a críticas da oposição pelo depoimento que prestou na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados;
- Na ocasião, Dino havia sido convocado para esclarecer os novos decretos do governo sobre armas, sua visita ao Complexo da Maré e o combate aos atos de 8 de janeiro. O embate protagonizado entre o ministro e parlamentares da oposição gerou alta visibilidade para ele, entre críticas, sob a acusação de que ele teria “debochado” de opositores, e elogios por sua suposta postura combativa apontada por governistas;
- Fernando Haddad foi o segundo ministro mais evocado do período. Isso se deu em decorrência, sobretudo, da discussão sobre o arcabouço fiscal. O anúncio do ministro mobilizou diferentes campos políticos, com destaque mais robusto para críticos da medida econômica. Na oposição de direita e no campo progressista não governista de esquerda e centro-esquerda, o anúncio foi lido com desconfiança e insegurança;
- Também teve alto alcance a opinião de que o retorno do ex-presidente Bolsonaro ao país perdeu a relevância nas redes, e mesmo na mídia de maneira geral, devido aos holofotes estarem voltados para Fernando Haddad;
- Declarações do ministro Geraldo Alckmin sobre a reforma tributária no país, da qual ele se diz favorável, concentraram as menções ao político, especialmente em perfis da mídia tradicional. Simone Tebet, por sua vez, foi mencionada com frequência por ter anunciado o arcabouço fiscal junto a Haddad, ainda que ele concentre a repercussão decorrente do acontecimento.
Principais termos relacionados ao arcabouço fiscal no Twitter
Período: de 25 a 31 de março, até às 16h
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Pode-se aferir que a medida foi vista com desconfiança e insegurança por diversos campos políticos. A oposição alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro e o campo progressista não governista, seja de esquerda ou centro-esquerda, criticaram o arcabouço fiscal anunciado por Fernando Haddad com tons distintos. Parlamentares desses espectros ideológicos tiveram alto alcance ao emitir suas opiniões a respeito da medida do governo;
- Na ala oposicionista, o deputado federal Marcel van Hattem (NOVO-RS), em destaque, classificou a ação como “mais uma mentira do PT”. Afirmou, ainda, que atuará junto ao seu grupo político para barrar o avanço da medida, que, na sua perspectiva, traria mais dívidas, impostos e despesas para o povo e o governo;
- À esquerda, Glauber Braga (PSOL-RJ) comparou o arcabouço fiscal ao criticado teto de gastos proposto em 2016 pelo ex-presidente Michel Temer. Embora tenha considerado o anúncio de Haddad “menos pior” do que a medida de Temer, Braga afirmou que os direitos sociais continuariam submetidos à vontade do “mercado”;
- Já na ala de centro-esquerda, Antonio Neto, presidente do PDT-SP, viu o anúncio com ponderação. O político afirmou que esperaria mais informações para emitir opiniões sobre a medida, mas foi categórico ao afirmar que Lula não teria sido escolhido por seus eleitores para “colocar regra de investimento em saúde e educação”;
- Com alcance mais restrito, no âmbito governista, a medida foi lida de maneira positiva. Afirmou-se, por exemplo, que a determinação seria “sensata” e “exequível”, uma vez que possibilitaria a redução dos juros, a retomada dos investimentos e melhorias em termos de renda e empregabilidade. De maneira lateral, a repercussão do anúncio de Haddad na mídia tradicional também teve alcance relevante na discussão, mas em tom menos opinativo.