Pronunciamento de Bolsonaro unifica oposições nas redes em repúdio
Discurso acentua isolamento da base de apoio do presidente em debate nas redes
Atualizado em 27 de março, 2020 às 10:55 am
- No Twitter, grupos “não alinhado” e de “esquerda” se fundem em reação ao pronunciamento, que gerou 3,5 milhões de postagens entre as 20h30m desta terça e a 0h desta quarta;
- Grupo de “direita” mantém nível similar ao observado desde o início da crise da pandemia, embora com leve queda de presença no debate em comparação com a segunda-feira (23);
- No YouTube, reações negativas superam as positivas desde o fim da fala de Bolsonaro.
O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em cadeia nacional, na noite de terça-feira (24), provocou uma forte convergência das oposições em repúdio ao tom adotado como reação à crise do Covid-19. Pela primeira vez desde o anúncio, pela OMS, da pandemia do coronavírus, análise da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) identificou no Twitter uma união entre os grupos “não alinhado” e de “esquerda” em reação ao discurso.
O grupo que inclui a base de apoio bolsonarista manteve nível similar de participação no debate observado desde o início da crise (oscilando diariamente entre 6% e 8% de presença na rede), embora com leve queda de presença no debate em comparação com a segunda-feira (23), indicando um aumento do isolamento da base de apoio do presidente nas redes.
No total, foram 6 milhões de postagens no Twitter, nesta terça-feira, sobre o coronavírus e a conjuntura política, o pico histórico de debate diário observado pela FGV DAPP desde o começo de março; apenas entre as 20h30 (começo do pronunciamento) e a 0h, 3,5 milhões de menções. no período total de monitoramento, já se somam 50 milhões de postagens na rede social relacionadas à pandemia no país.
A reorganização de um grupo unificado entre perfis à esquerda e de outros lados do espectro político acentua a relevância da resposta de diferentes setores da sociedade em oposição ao presidente, inclusive entre antigos apoiadores. Só permanece como mobilizador da base pró-governo o conjunto estável de parlamentares bolsonaristas, influenciadores alinhados a Olavo de Carvalho e os perfis do presidente e de sua família.
YouTube
A FGV DAPP acompanhou também a evolução das avaliações ao vídeo do pronunciamento de terça (24) do presidente Jair Bolsonaro no Youtube. De acordo com o levantamento, o vídeo, transmitido ao vivo por um canal da TV Brasil, TV BrasilGov, foi reproduzido 3,9 milhões de vezes até às 12h de quarta (25), sendo avaliado 529 mil vezes, das quais foram 175 mil avaliações positivas e 354 mil negativas. A distância entre os dislikes e os likes aumentou 5,2 vezes entre 21h e 01h. Até 12h quarta (25), a distância era de 179 mil dislikes.
Debate sobre a renúncia do ministro Mandetta
Depois de pronunciamento de Bolsonaro, organizou-se no Twitter um movimento unificado, da esquerda à centro-direita, de perfis questionando a permanência do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no cargo. A partir do início da fala do presidente na TV — e com dados até as 12h desta quarta —, somam-se 72,5 mil postagens sobre o assunto, com mais de 80% das interações articuladas a partir de contas que defendem a renúncia de Mandetta. O restante do engajamento é de grupos pró-Bolsonaro que repercutem positivamente postagens do ministro, do Ministério da Saúde e iniciativas do governo, defendendo que o país não pode parar.
O principal argumento mobilizado pelos que apoiam a renúncia de Mandetta apresenta um recorte moral, contrapondo a formação médica do ministro e o juramento profissional prestado quando da graduação. 19% das postagens citam a profissão do ministro, e 8% destacam o juramento. A hashtag #renunciamandetta vem sendo usada, mas com pouca relevância e menos de mil postagens até o momento.
O pico de interações associada à eventual saída do ministro ocorreu a partir das 22, quando se acentuou a presença de influenciadores que repercutiam o discurso de Bolsonaro frente ao posicionamento de governadores e outras autoridades do próprio governo. Nesse período, até as 23h, houve média de 420 tuítes/minuto sobre o tema na rede. Também foram produzidos e compartilhados memes que sugerem novas mensagens para o Ministério da Saúde, como “não ouvir o presidente”, ignorar suas recomendações e interpretar Mandetta e a pasta como órgãos independentes.