13 abr

Projeto Narrativas Ancestrais olha para os debates ambiental, indígena e ribeirinho nas principais plataformas de redes sociais

Atualizado em 19 de abril, 2022 às 11:40 am

O relatório desenvolvido pela Diretoria de Análises de Políticas Públicas (FGV DAPP) para o Projeto Narrativas Ancestrais teve por objetivo mapear as ondas narrativas sobre pautas indígenas, e relativas aos povos tradicionais mais amplamente, sob uma perspectiva multiplataforma das redes sociais digitais.

Nessa perspectiva, a partir de regras linguísticas que levam em consideração as especificidades de cada rede social mapeada, foi possível coletar mais de 9 milhões de postagens do debate sobre indígenas, quilombolas e populações ribeirinhas no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube conjuntamente. Foi adotada uma divisão temática que buscou identificar a evolução dos principais temas, menções, atores, campanhas e eventos relacionados a esses três conjuntos de entre os anos de 2019 e 2021, no Twitter, e nos últimos 10 anos nas outras plataformas. A sistematização se mostrou particularmente útil para a identificação e análise dos eventos e protagonistas de maior impacto nos ambientes digitais ao longo do período da pesquisa.

O documento apresenta, ainda, um estudo de caso sobre o inquérito aberto à pedido da Funai contra a ativista Sônia Guajajara. Essa análise teve o objetivo de montar um quadro mais amplo dos atores e das coalizões que se engajam e mobilizam o debate sobre indígenas na plataforma.

De maneira geral, os resultados apontam para a grande centralidade de perfis indígenas entre os principais atores dos debates analisados, com presença coadjuvante de perfis usualmente engajados no debate ambiental, como jornalistas e organizações ativistas. Observou-se, também, como o debate sobre populações tradicionais (quilombolas e ribeirinhos) ocorre de modo muito próximo ao debate sobre indígenas, com diversos perfis compartilhados e proximidade temática em diferentes momentos no período analisado. O documento, todavia, consiste em um levantamento e diagnóstico parcial baseado em apenas uma das plataformas que serão analisadas, contribuindo para o entendimento de uma parte das estratégias e temas que mobilizaram e foram mobilizados no debate sobre indígenas e populações tradicionais em ambientes digitais.

Resumo:

  • O Facebook se destaca como a principal rede em que as organizações ambientais e indigenistas obtiveram a maior influência no debate, sobrepondo-se a perfis individuais de ativistas e até mesmo a figuras da política institucional.
  • O Instagram, por sua vez, foi a rede em que predominaram as publicações feitas por celebridades. De atuação menos constante no debate, elas são importantes para expandir o alcance de campanhas para públicos que não participam tão ativamente das discussões. A questão indígena obteve especial atenção, principalmente em campanhas que se articularam em diálogo com a preservação ambiental.
  • O Twitter é marcado pela presença de ativistas ambientais e indígenas. É o espaço que aparentemente compõem a maior variedade de atores, com a presença também de organizações e figuras da política institucional. É importante destacar, no entanto, a formação de um conjunto de lideranças, especialmente ligadas à causa indígena, nessa rede, com a presença de jovens que se articulam em questões políticas, campanhas e também mobilizam temas ligados às culturas tradicionais.
  • O YouTube foi a rede que menos apresentou resultados, com a presença esporádica de vídeos sobre indígenas e populações tradicionais de grande repercussão. A rede foi marcada por picos específicos que não sugerem a formação de uma rede audiovisual de grande estrutura e alcance.
  • As mulheres indígenas se destacaram no Facebook, Instagram e Twitter, sendo referências fundamentais no debate e se posicionando com maior alcance do que as lideranças indígenas masculinas.
    Há um movimento que se observa em todas as redes relacionado à ascensão do grupo político e social ligado a Jair Bolsonaro. Os debates até 2017 apresentavam tom mais ameno, com poucos contrapontos ligados à agenda anti-ambiental e indígena. A partir de 2018, essa agenda ganha força e os atores ligados ao bolsonarismo se tornam a principal fonte de contra narrativas. Esse processo aglutinou atores ligados à política institucional de esquerda, organizações e ativistas em um mesmo grupo, com alguma coesão, que busca reverter e impedir retrocessos.
  • O debate sobre Ribeirinhos foi marcado pela presença constante de lideranças religiosas, em especial, evangélicas. Outro segmento relevante foi o relacionado a temas ligados ao ecoturismo. Já entre Quilombolas, o debate se organizou majoritariamente em torno da pauta racial, com a diminuição de publicações e perfis relacionados a temas culturais e o crescimento de organizações páginas mais ligadas à luta política. Interessante notar que perfis de indígenas permeiam ambos os debates.

ACESSE AQUI A ANÁLISE COMPLETA NAS REDES SOCIAIS PARA O PROJETO NARRATIVAS.

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)