Primeiro turno marca diminuição na hegemonia de Bolsonaro nas redes sociais e disputa acirrada com Lula
Atualizado em 6 de outubro, 2022 às 4:18 pm
- Grupo de apoio a Lula ganha reforço de artistas e concentra mais de 45% dos perfis no Twitter; apoiadores de Bolsonaro somam pouco mais de 27% dos perfis. Grupo em torno de Ciro se aproxima de nomes da centro-direita;
- Bolsonaro e Lula foram os presidenciáveis mais mencionados ao longo de toda a campanha, com pico de menções durante o debate da Globo; Ciro e Simone obtiveram os maiores picos no debate promovido pela Band;
- Segurança/Corrupção lidera entre os temas do primeiro turno, marcado pelo tom hostil e acusações entre grupos políticos; Desemprego e combustíveis impulsionam a Economia como segundo tema mais relevante;
Após um grande período de hegemonia de Jair Bolsonaro e seu grupo político no debate público digital, o primeiro turno das eleições de 2022 marca um aumento do equilíbrio com grupos de oposição, com destaque para a mobilização em torno da candidatura do ex-presidente Lula. É o que mostra o levantamento da Escola de Comunicação da FGV, que analisou 79,9 milhões de tuítes sobre as eleições de 2022, entre 16 de agosto e 29 de setembro.
O perfil de Jair Bolsonaro foi o presidenciável com mais interações em seu perfil no Twitter, Facebook e Instagram. Lula, por sua vez, lidera em redes de vídeos, como YouTube e TikTok. Em relação aos campos políticos, Lula apresenta vantagem no Twitter, entre 27 e 29 de setembro, com a aproximação de um conjunto formado por artistas e influenciadores contrários à candidatura de Bolsonaro. No Facebook, rede usualmente predominada pelo candidato do PL, nota-se empate entre número de perfis nos grupos de apoio a Bolsonaro e Lula.
Mapa de interações – Twitter
Mapa de interações de menções a presidenciáveis no debate sobre eleições no Twitter
Período: de 27 a 29 de setembro
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Influenciadores Anti-bolsonaro (Rosa) ‒ 23,52% dos perfis | 12,11% das interações
Conjunto formado por influenciadores, artistas e perfis de entretenimento que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Apesar do baixo volume de interações, o grupo conta com diversos perfis próximos ao conjunto de esquerda. O grupo critica o apoio do jogador Neymar ao presidente Bolsonaro e comentam o debate da Rede Globo através de memes e ironias. Os perfis também denunciam os casos de violência política contra petistas e responsabilizam Bolsonaro pela violência política.
Esquerda (Vermelho) ‒ 22,18% dos perfis | 31,54% das interações
Composto por veículos de comunicação, professores, figuras políticas e influencers de esquerda, com foco no perfil do ex-presidente Lula, o grupo repercutiu algumas falas do petista durante o debate televisivo da Rede Globo. Entre os assuntos, destacam-se a Lei de Cotas e o sigilo de 100 anos decretado por Bolsonaro em alguns documentos. Há um teor de expectativas em torno da eleição, com as pessoas indicando ansiedade para votarem em Lula. Também circulam denúncias de que os dirigentes do grupo de empresas IMETAME estariam coagindo funcionários para votarem em Bolsonaro, além de supostos casos de violência da base governista contra petistas.
Direita (Azul) ‒ 27,21% dos perfis | 42,1% das interações
Grupo formado por perfis e influenciadores de direita que apoiam Bolsonaro. Tentativas de criminalização de Lula através da distorção de opiniões sobre pautas comportamentais e de segurança dão a tônica do conteúdo. Apoio de Neymar e cantores sertanejos a Bolsonaro também se destacou, sendo lido como “sinal de vitória”. Foi notório também o uso de falas de Ciro Gomes para legitimar críticas a Lula e converter votos de Ciro para Bolsonaro em um eventual segundo turno.
Terceira Via (Laranja) ‒ 4,16% dos perfis | 5,43% das interações
Base formada por Ciro Gomes e seus apoiadores, Simone Tebet e por nomes da direita brasileira não alinhados com o presidente Bolsonaro, como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol. Em comum, o grupo traça críticas ao governo Bolsonaro e, especialmente, ao ex-presidente Lula. Apesar de terem iniciado a campanha em campos políticos distintos, ambos convergem nas acusações de corrupção feitas ao petista e defesa de que nenhum dos candidatos que lidera a eleição é uma boa opção para a presidência.
Principais tuítes dos grupos no mapa de interações do Twitter
Período: de 27 a 29 de setembro
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Evolução dos campos políticos no Twitter
A análise dos campos políticos é feita a partir da rede de relações estabelecida a partir de retuítes. A regra de pesquisa utilizada busca coletar as publicações que fizeram menções aos candidatos à presidência do Brasil em 2022. Os grupos são formados a partir da rede de retuítes, que aproximam perfis que retuitaram os mesmos perfis. Ou seja, se dois perfis retuitaram 10 outros perfis, sendo, 8 destes, iguais. Eles se aproximam. Caso não compartilhem perfis, eles se distanciam. Essa técnica permite identificar conjuntos de perfis que são posteriormente classificados segundo os campos ideológicos.
Evolução do volume de perfis nos campos políticos de Lula e Bolsonaro no Twitter
Período: de 16 de agosto a 26 de setembro | Agregado por semana
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Presidenciáveis e Temas no Twitter
Menções aos presidenciáveis no Twitter
Período: 16 de agosto a 29 de setembro
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- As menções aos candidatos Jair Bolsonaro e Lula alcançaram um patamar inédito desde o início da corrida eleitoral, repercutindo aspectos do debate veiculado pela Rede Globo. Já Ciro Gomes e Simone Tebet obtiveram mais destaque durante o debate da Band;
- Nos comentários sobre Bolsonaro, destacam-se elogios e manifestações de apoio, com as críticas ao presidente atuando de maneira lateral. Narrativas contrárias à Rede Globo obtiveram protagonismo. A base governista comemora confiante a proximidade do primeiro turno, ignorando as intenções de voto divulgadas por institutos de pesquisa;
- Nas menções ao ex-presidente Lula, a discussão é mais disputada. Ainda que as manifestações de apoio ao petista se destaquem, reverberando trechos de suas falas durante o debate da Globo, a base governista intensificou as críticas ao presidenciável. Vale ressaltar que há uma forte presença de apoiadores de Bolsonaro e de Lula nas menções aos outros candidatos, o que indica a força destes grupos no Twitter;
- A disputa entre os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto se refletiu no Twitter ao longo de toda a corrida presidencial. Percebe-se um domínio de Bolsonaro, que se manteve à frente do petista, em número de menções, durante a maior parte do período monitorado. Lula, contudo, conseguiu se destacar em alguns momentos, principalmente, durante a rodada de entrevistas ao Jornal Nacional, quando o ex-presidente obteve mais do que o dobro das menções a Bolsonaro.
Principais temas relacionados a eleição no Twitter
Período: 16 de agosto a 29 de setembro
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Os temas de segurança, economia, saúde e meio ambiente tiveram seus maiores picos registrados durante o debate da Globo. Em segurança, a tentativa de Bolsonaro de usar Simone Tebet para associar Lula ao assassinato de Celso Daniel se destacou. Já em economia, se sobressaiu a questão do desemprego, enquanto em saúde, o número de mortes na pandemia foi levantado pelos presidenciáveis contra Bolsonaro;
No período eleitoral como um todo, a segurança foi destaque, tendo como enfoque acusações aos presidenciáveis envolvendo corrupção e envolvimento com o crime organizado, além de casos de violência política;
O aumento da fome, o preço dos combustíveis e os auxílios aprovados às vésperas das eleições foram os principais destaques na economia. O debate eleitoral na Band teve um dos maiores montantes de menções ao tema, com destaque para as falas de Ciro e Lula sobre a piora na economia;
Em saúde, a entrevista do presidente Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional e o debate da Band também ampliaram o debate sobre o desempenho do governo federal no combate à pandemia e as declarações do presidente imitando pessoas sufocando e minimizando a gravidade da doença no início da pandemia. O piso da Enfermagem, aprovado por Bolsonaro e vetado pelo STF, também foi destaque na reta final do primeiro turno;
Os debates sobre meio ambiente e educação repercutiram através de declarações dos presidenciáveis durante entrevistas e debates, mas com pouca influência no debate como um todo. Em meio ambiente, se destacaram críticas a Bolsonaro pelos altos índices de desmatamento e violência indígena em seu governo. Já em educação, destacaram-se propostas divulgadas pelos presidenciáveis e a repercussão do escândalo do MEC.
Interações em perfis de presidenciáveis
Evolução de interações nos perfis de presidenciáveis no Twitter
Período de análise: de 16 de agosto a 29 de setembro | Agregado por semana
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- O acirramento latente entre Jair Bolsonaro e Lula também transpareceu no engajamento dos presidenciáveis no Twitter. As participações de ambos nas sabatinas do Jornal Nacional e posteriormente nos debates da Band e da Globo responderam por alguns dos picos mais significativos. Ciro Gomes e Simone Tebet, por sua vez, se mantiveram recuados em relação aos seus principais concorrentes e tiveram mais menções no debate da Band;
- Discurso sobre “verdades” e “mentiras” foi marcante na narrativa de Bolsonaro em relação a Lula, enquanto o petista investiu na ideia de renovação do país a partir de sua eleição. Lula angariou apoio na rede especialmente ao ressaltar aspectos como os julgamentos “parciais” aos quais foi submetido e a prisão que considerou injusta. A defesa de Bolsonaro sobre a acusação de ter debochado de pacientes com Covid-19, que foi destaque no JN, também marcou momentos de maior repercussão do candidato.
Evolução de interações nos perfis de presidenciáveis no Facebook
Período de análise: de 16 de agosto a 29 de setembro | Agregado por semana
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Bolsonaro obteve o maior número de interações no Facebook durante todo o período eleitoral, com destaque para os dias de sua entrevista ao JN e ao Pânico. Mesmo com momentos de queda, o presidente consegue manter sua base engajada, com publicações sobre agendas e supostas conquistas do seu governo;
- Lula ultrapassou Bolsonaro em alguns momentos, como durante a sua sabatina no JN ou ainda após a coletiva de imprensa com Marina e Alckmin. No entanto, em número geral de interações, Lula segue bem atrás do candidato à reeleição, com esta diferença se intensificando às vésperas da votação;
- Ciro Gomes e Simone Tebet permaneceram estáveis ao longo da corrida presidencial, alcançando um número ínfimo de interações, em comparação a Bolsonaro e Lula. Enquanto Ciro se destacou com trechos de sua participação em entrevista ao JN, Tebet teve um pico de interações com o debate da Band.
Evolução de interações nos perfis de presidenciáveis no Instagram
Período de análise: de 16 de agosto a 29 de setembro | Agregado por semana
Fonte: Instagram | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- O engajamento no Instagram foi marcado por proeminência geral de Jair Bolsonaro, que concentrou o maior engajamento na rede a partir da repercussão da sabatina do Jornal Nacional e dos debates da Band e Globo. Já os posts de maior sucesso de Lula, que se manteve atrás com certo distanciamento, buscaram se aproximar do público com um tom mais informal;
- A exceção da vantagem isolada de Bolsonaro sobre Lula ocorreu na segunda quinzena de setembro, quando o petista enfocou em publicações que demonstravam apoio da classe artística à sua candidatura;
- Ciro Gomes e Simone Tebet tiveram um alcance pouco expressivo em comparação aos dois candidatos à frente. Os posts de maior destaque de Tebet consistiram em excertos do debate em que ela critica Bolsonaro por atitudes machistas e autoritárias. Já Ciro obteve maior relevância ao denunciar o uso político do 7 de setembro por parte de Bolsonaro.
YouTube
Evolução de visualizações nos canais de presidenciáveis no YouTube
Período de análise: de 25 de julho a 18 de setembro | Agregado por semana
Fonte: YouTube | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Nos canais oficiais dos presidenciáveis, a proeminência de Bolsonaro é interrompida de maneira significativa pelas boas performances de vídeos de Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet;
A entrevista de Lula no Programa do Ratinho respondeu pelo maior pico de visualizações do petista, que investiu na retórica de “volta da esperança”. Vídeos em o candidato sustenta ter sido vítima de “armação” e em que critica a gestão de Bolsonaro na pandemia também obtiveram bons índices; - Enquanto Ciro chamou a atenção com propostas de sua candidatura, como a lei “Antiganância” e a renda mínima de R$ 1 mil reais, Simone se destacou ao se apresentar aos eleitores e detalhar sua trajetória política;
- Bolsonaro teve destaque minorizado em comparação aos seus concorrentes, conseguindo repercussão restrita com lives pontuais e “falas à Nação”.
TikTok
Evolução de plays nos canais de presidenciáveis no TikTok
Período de análise: de 16 de agosto a 29 de setembro | Agregado por semana
Fonte: Tiktok | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
O TikTok parece ter sido a “arena” presidencial com a concorrência mais balanceada, aproximando, em termos de engajamento, Jair Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes. Já Simone Tebet teve uma atuação inexpressiva se comparada à presença de seus concorrentes na plataforma;
A defesa de Bolsonaro sobre ter debochado de pacientes de Covid-19, tema sobre o qual foi confrontado no JN, foi o vídeo mais visualizado do candidato. No caso de Lula, declaração sobre ter sido acusado de não ser cristão marcou maior engajamento, enquanto Ciro gerou repercussão com memes.
Mapa de interações – Facebook
Mapa de interações de menções a presidenciáveis no debate sobre eleições no Facebook
Período: de 16 de agosto a 29 de setembro
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Esquerda (Vermelho) ‒ 33,96% dos perfis
Conjunto formado por páginas e grupos em apoio à candidatura do ex-presidente Lula. Os links mais compartilhados se dividem entre a repercussão de notícias com denúncias de suspeita de corrupção, como a investigação sobre a compra de imóveis em dinheiro vivo pela família Bolsonaro, e a divulgação de sites com materiais de campanha para as ruas e para os ambientes virtuais.
Direita (Azul) ‒ 32,30% dos perfis
Grupo formado por páginas e grupos em apoio à candidatura do presidente Jair Bolsonaro. O conjunto é marcado pela circulação de sites com propaganda negativa contra o ex-presidente Lula, com destaque para o site “LulaFlix”, que reúne diversos materiais que buscam atingir o petista. Uma pesquisa publicada pela empresa de pesquisa Brasmarket, que mostra Bolsonaro a 13 pontos de Lula, também obteve grande repercussão, sendo compartilhada mais de 200 vezes.
Notícias locais (Laranja) ‒ 2,88% dos perfis
Conjunto formado por páginas e grupos de notícias locais. É marcado pela circulação de links de sites de mídia regional, que repercutiram casos de violência durante a campanha, com maior proeminência de episódios promovidos por apoiadores de Jair Bolsonaro. Um dos acenos do jogador Neymar a Bolsonaro também foi repercutido e figurou entre os links mais compartilhados.
Influenciadores regionais (Rosa) ‒ 2,32% dos perfis
Grupo formado por blogs e portais de notícias regionais. A variedade de tons das notícias veiculadas sugere que há veículos favoráveis a um candidato em específico, entre Lula e Bolsonaro, e outros que tratam de temas relacionados às eleições de maneira mais “neutra” e balanceada.
Blogs e páginas regionais (Verde) ‒ 2,23% dos perfis
Grupo formado por páginas e blogs voltados para a circulação de informações regionais. Divulgação de atos de campanha de presidenciáveis e punições a propagandas eleitorais irregulares se destacam. Apostas de vereadores e empresários sobre vitórias de Lula ou Bolsonaro também estão entre as notícias mais compartilhadas. Não há um único posicionamento político evidente, que muda de veículo para veículo.