Oposição tenta emplacar CPMI do 8 de janeiro e acusa Lula de corrupção e suborno, enquanto esquerda ignora debate
Atualizado em 20 de março, 2023 às 5:33 pm
- Oposição argumenta que a abertura da CPMI vai mostrar os “verdadeiros” responsáveis pelo 8 de janeiro e entendem os movimentos do governo contra a Comissão como uma admissão de culpa;
- Em movimento oposto, esquerda ignora o debate e divulga depoimentos que responsabilizem a polícia e grupos de direita pelos atos antidemocráticos;
- No Facebook, links mais compartilhados sobre o tema também demonstram protagonismo da oposição, com a preponderância de veículos independentes alinhados a Bolsonaro;
- Tentativas de suborno e “mensalão 2.0” pautam o debate no Telegram, também marcado pelo protagonismo da oposição ao governo;
As demandas pela instauração de uma CPMI para investigar os atos de 8 de janeiro em Brasília vêm mobilizando parte da oposição ao Governo Lula, com forte tentativa de desgastar a imagem do presidente. A esquerda, por sua vez, se mostra praticamente ausente, o que pode apontar para uma estratégia intencional de omissão no debate e evitando o aumento da repercussão do tema nas plataformas. É o que mostra um levantamento da Escola de Comunicação da FGV, que avaliou a repercussão do tema entre os dias 10 e 16 de março no Twitter, Facebook e Telegram.
No Twitter, a discussão orbita majoritariamente em torno de grupos alinhados à direita e, em geral, ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Esses conjuntos de perfis são formados, sobretudo, por parlamentares da oposição, influenciadores e outros perfis conservadores. Com pouca presença no debate, há presença de lideranças progressistas e páginas de mídia que repercutem notícias mostrando o andamento das investigações relacionadas aos eventos do dia 8 de janeiro, evitando mencionar a CPMI. As postagens apontam para um esforço da oposição em transformar a questão em uma pauta política contra o presidente Lula e responsabilizá-lo pelos atos de vandalismo, fortalecendo a narrativa de que a violência foi provocada por infiltrados e que Lula e o ministro Flávio Dino teriam sido avisados e optaram por não agir. Já em setores progressistas, observa-se uma ausência atípica do debate, que pode ser vista como uma estratégia para evitar a ampliação do debate nas plataformas.
No Facebook, a maioria dos links mais compartilhados na plataforma sobre o tema são oriundos de sites de direita alinhados ao ex-presidente Bolsonaro. Com a retirada de assinaturas de parlamentares para a abertura da CPMI, é aventada uma suposta tentativa de impedir a instalação da Comissão por parte do governo atual, o que é ilustrado por notícias como a de que Lula estaria distribuindo cargos de segundo escalão para partidos do Centro. Já em grupos do Telegram, na mesma toada das outras redes, fala-se em “suborno” deliberado do presidente e em um “mensalão 2.0”.
Mapa de interação sobre a CPMI no Twitter
Período: de 10 a 16 de março
Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
Parlamentares de oposição (Azul) – 28,1% de perfis | 34,8% de interações
O maior grupo no debate é formado por parlamentares de oposição ao Governo Lula. Nomes como @andrefernm, @EduGiraoOficial, @rogeriosmarinho, @delegadoramagem, @FlavioBolsonaro, @carlosjordy e @Zambelli2210 defendem a CPMI e relatam a tentativa de instalação. Nessa pauta, o principal destaque é a caracterização negativa de ações atribuídas ao governo para barrar a Comissão por meio da “compra” de parlamentares, acusando Lula de corrupção. A movimentação do Governo Federal é simultaneamente enquadrada como indício de desespero e evidência da importância da Comissão. Nesse sentido, o baixo número de assinaturas retiradas também fortalece a caracterização de que o governo teria “fracassado” em seus esforços. Em segundo plano, os parlamentares buscam cobrar @rodrigopacheco para fazer a leitura do requerimento de abertura das Comissões. Lateralmente, as bases de apoio desse campo político também compõem o grupo, ao serem acionadas pelos políticos e ao se engajarem na cobrança.
Perfis de oposição (Turquesa) – 16,5% de perfis | 18,2% de interações
Os usuários @ATROMBETA3, @Jakelyneloiola_ e @crisdemarchii se destacam entre um conjunto de perfis mobilizados pela crítica às ações atribuídas ao governo Lula para barrar a CPMI e aos parlamentares que teriam retirado as assinaturas do requerimento para a abertura. Os influenciadores conservadores de médio a pequeno porte vinculam as ações do governo tanto à tentativa de ocultar os verdadeiros acontecimentos do dia 8 de janeiro quanto à “traição” ou “venda” dos parlamentares por “corrupção”. A mobilização envolve também o compartilhamento de notícias de veículos midiáticos de direita, bem como a exposição de relatos quanto à situação crítica dos “presos politicos” e “patriotas” acusados pelos atos do dia 08.
Mídia de direita (Azul Claro) – 13,0% de perfis | 14,5% de interações
Com enfoque na divulgação de notícias relacionadas ao processo de instalação da Comissão, o grupo reúne veículos midiáticos de direita, com a participação lateral de outros atores relevantes nesse campo político, que também divulgam notícias associadas. O acréscimo ou a retirada de assinaturas, a alegada movimentação do Governo Federal e as declarações de atores políticos, como Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Humberto Costa (PT-PE) se destacam em perfis como @brom_elisa, @revistaoeste, @terrabrasilnot, @jornaldacidadeo e @jovempannews.
Influenciadores de oposição (Roxo) – 7,8% de perfis | 6,7% de interações
Subconjunto de perfis que também defendem a instalação da CPMI, com ênfase em comentários que identificam os parlamentares que retiraram suas assinaturas por “cederem” à “pressão”, “chantagem” e “intimidação” de Lula. Atores políticos relevantes no campo da oposição e influenciadores de grande porte ocupam papel de relevância neste grupo, com destaque para @CamargoDireita, @leandroruschel e @jouberth19.
Perfis conspiracionistas (Verde escuro) – 7,1 de perfis | 6,9% de interações
Formado por perfis de direita de tom mais conspiracionista, o grupo defende que a CPMI irá provar que Lula é responsável pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e que por isso ele teria medo da abertura da CPMI. Afirmando que “a verdade prevalecerá” o grupo denuncia suposta ameaça feita pelo Governo Federal aos parlamentares que retiraram sua assinatura do pedido de abertura, através do não pagamento de emendas parlamentares. Os perfis também falam dos “patriotas presos injustamente” e que é preciso identificar os “infiltrados” e soltar os “patriotas” desse “sistema corrupto”.
Lideranças progressistas e veículos de mídia (Laranja) – 5,8% de perfis | 3,5% de interações
Formado por lideranças progressistas e por perfis de veículos midiáticos, o grupo repercute notícias de depoimentos de pessoas detidas no dia 8 de janeiro e policiais, apontando que os atos de vandalismo foram organizados e tiveram a anuência da polícia. Enquanto a mídia adota um tom noticioso mais imparcial, as lideranças progressistas, com destaque para @GuilhermeBoulos, @IvanValente e @lazarorosa25 ignoram a narrativa da oposição de que Lula teria medo da abertura de uma CPMI e focam em apontar como as investigações que já estão em curso têm demonstrado uma articulação dos atos antidemocráticos, repercutindo também a CPI em curso no Distrito Federal que investiga o caso.
Direta conservadora (Verde) – 4,8% de perfis | 3,5% de interações
Formado por perfis de conservadores, o grupo enfatiza a imagem dos parlamentares que retiraram as assinaturas para abertura da CPMI, chamando eles de traidores. O senador Rodrigo Pacheco também é cobrado, em especial pela influenciadora @AnaPaulaVolei e @VlogdoLisboa.
Direita conservadora patriota (Amarelo) – 4,8% de perfis | 4,0% de interações
Similar ao grupo acima, o conjunto é formado por perfis conservadores que denunciam a atuação do senador Rodrigo Pacheco, afirmando que ele está agindo para impedir a instalação da CPMI. O grupo também critica e nomeia parlamentares que retiraram suas assinaturas do pedido de abertura.
Principais links do debate sobre a CPMI no Facebook
Período: de 10 a 16 de março
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Existe uma quase total predominância de links oriundos de sites de notícias de direita em relação ao debate sobre a CPMI, especialmente veículos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Os sites de mídia independente Jornal da Cidade Online, Revista Oeste e Vista Pátria estão entre os destaques, assim como veículos de linha liberal mais evidente, ao exemplo de Jovem Pan News e O Antagonista. De maneira lateral e, em geral, mais generalizada, veículos como UOL, CNN Brasil e R7 repercutiram desdobramentos do caso;
- Nos veículos que apoiam o ex-presidente, a tônica geral é de que o atual governo estaria se articulando para “boicotar” a CPMI. O link de maior repercussão, veiculado pelo Jornal da Cidade Online, afirma que apoiadores de Bolsonaro estariam voltando a acampar perto de quartéis como forma de pressionar a instauração da investigação;
- Links que sugerem que o presidente do Senado Rodrigo Pacheco estaria contribuindo para dificultar a instauração da CPMI também circulam com notoriedade. Nesse sentido, foi destacado o indeferimento da solicitação de abertura da CPI protocolada pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que teria reunido assinaturas de senadores da legislatura passada. Ao longo desta semana, afirmando ter novas assinaturas da legislatura atual, Thronicke requereu novamente ao STF a abertura da Comissão;
- A afirmação de que Lula estaria distribuindo cargos do segundo escalão do governo para tentar barrar a CPMI circulou em links da Revista Oeste e do site TV Bolsonaro Presidente. Os veículos afirmam que o presidente estaria favorecendo partidos do Centro para obter apoio de parlamentares de modo a impedir o desenvolvimento da CPMI. No geral, os links sugerem que o petista estaria temeroso com possíveis desdobramentos da investigação.
Telegram
Mensagens relacionadas ao debate sobre a CPMI no Telegram
Período: de 10 a 16 de março
Fonte: Telegram | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Tentativas de desgastar a imagem do Governo Federal com a chamada CPMI do 8 de janeiro marcaram o debate mapeado no Telegram. Citando um suposto “mensalão 2.0”, os grupos se voltaram, principalmente, a críticas ao presidente Lula, acusado de subornar deputados federais para que estes não assinem o pedido de abertura da Comissão. A situação tem potencial de repercutir para além da CPMI, na medida em que procura despertar a desconfiança em torno de um esquema de corrupção envolvendo o governo federal e parlamentares eleitos;
- Nesse contexto, os parlamentares que mudaram de ideia em relação à CPMI, desistindo de apoiar a abertura da Comissão, também viraram alvo de críticas. Com ênfase nos nomes de Detinha (PL-MA), Max Lemos (Pros-RJ) e Josimar Maranhãozinho (PL-MA), os grupos cogitam uma “traição” por parte de parlamentares da base aliada a Bolsonaro. A suposta traição pode inflamar um sentimento comum de aversão ao que é político, como se todos os parlamentares fossem corruptos;
- A reivindicação por uma CPMI que investigue os protestos do 8 de janeiro, vale dizer, está fortemente atrelada a teorias conspiratórias, que responsabilizam o governo federal e a polícia pelos atos de vandalismo em Brasília, mencionando um suposto “medo” da Comissão. No entanto, estas narrativas circulam de modo bastante isolado na plataforma, mobilizando os mesmos atores e grupos.