24 mar

Oposição domina debate sobre plano de ataque contra Moro e reações à declaração de Lula desgasta governo

Atualizado em 28 de março, 2023 às 10:53 am

  • Sucessão de acontecimentos envolvendo declarações de Lula e operação da Polícia Federal, além das respostas do senador Sergio Moro, hegemonizaram o debate sobre o Governo Federal a partir do dia 21 de março, diminuindo espaço de outros temas da semana;
  • Desgaste do governo é preponderante na repercussão das declarações de Lula após suspeita de armação no ataque planejado pelo PCC a autoridades públicas, especialmente após declaração do presidente levantando a possibilidade de caso ser “armação de Moro”;
  • Debate lateral em outras plataformas, o caso reacende associações entre Lula e o PT ao PCC, especialmente no Telegram.

A oposição ao governo tem centralizado o debate sobre a descoberta de um plano de ataque do PCC ao senador Sérgio Moro. O desgaste da imagem do Governo Federal e do Presidente da República se tornou evidente após a declaração de Lula sobre o caso e a pouca capacidade de resposta da base governista entre os destaques do dia 23 de março. É o que mostra um levantamento da Escola de Comunicação da FGV, que avaliou a repercussão do tema entre os dias 17 e 23 de março no Twitter, Facebook e Telegram.
No Twitter, o caso passou a ocupar papel central no dia 22 de março, a partir das revelações da Polícia Federal. Em termos de protagonismo narrativo, o debate oscilou entre os dias 22 e 23: inicialmente, a vinculação positiva entre a declaração pessoal de Lula e a ação estatal e independente da PF petista estava em destaque, mas houve perda de protagonismo após a suspeita de armação levantada por Lula em nova entrevista. Já no Facebook, veículos de direita tiveram o maior alcance com relação ao caso, destacando a fala de lideranças políticas de direita e criticando a declaração do presidente no dia 23 de março.
Por sua vez, é no Telegram e em vídeos lá compartilhados em que circulam narrativas extremistas quanto aos significados do caso. Nesse sentido, ganha força uma perspectiva que aparece apenas lateralmente presente no Twitter e Facebook: a de que o plano de ataque do PCC e a postura de Lula diante do caso revelam não apenas riscos à vida de Moro, mas associações entre o Partido dos Trabalhadores e o crime organizado.
O episódio se soma à visita de Flávio Dino à favela da Maré-RJ na recuperação de uma narrativa construída durante todo o período eleitoral, buscando associar o PT e Lula ao crime organizado – em especial ao PCC. Em relatório especial da FGV ECMI sobre o debate de Segurança, publicado em julho de 2020, foi identificada forte campanha para sugerir uma suposta influência da facção criminosa tanto no PT, quanto no Judiciário. O ponto de atenção, no caso atual, está no acúmulo prévio de materiais e narrativas entre os grupos alinhados a Bolsonaro e no potencial de transbordamento do pânico em torno dessa questão em segmentos menos partidarizados.

Twitter

Evolução de menções ao Governo Federal no Twitter
Período: de 17 a 23 de março

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • O debate sobre o caso do senador Sergio Moro (UNIÃO-PR) ganhou força a partir do dia 21 de março, desencadeando um pico de menções até o fim do período. A evolução segue a linha do tempo dos acontecimentos.
  • No dia 21, a entrevista de Lula para o Brasil247 começou a repercutir negativamente entre opositores, que usam o material para vincular Lula, e não Bolsonaro, ao “ódio” e à “grosseria.” De forma secundária, críticas à cobertura da imprensa à declaração de Lula circulam entre apoiadores, que também relembram críticas a Moro. A resposta do senador aparece em destaque lateral ao ser veiculada em portais de notícias.
  • Em 22 de março, o caso assume o protagonismo no debate sobre o Governo Federal a partir das menções ao plano de ataque do PCC a autoridades públicas, revelado pela Polícia Federal neste mesmo dia. Em termos de repercussão opinativa, é preponderante a perspectiva que parabeniza a atuação da PF e a atribui positivamente à independência do órgão e à gestão indicada pelo presidente, com menções a Lula ter salvado o senador. As manifestações de Gleisi Hoffmann (PT-PR), do jornalista Ricardo Noblat e do ministro Flávio Dino se destacam, marcadas pela vinculação positiva entre os acontecimentos.
  • Já no dia 23, predomina a repercussão negativa da declaração de Lula sobre a possibilidade do caso ser uma armação de Sergio Moro. As críticas ganham força em comentários de opositores do presidente. Perfis de imprensa também ficaram em evidência ao repercutirem as novas declarações de Moro e alguns poucos artigos de opinião.
  • O episódio é mencionado por opositores com enfoque na contradição entre a anterior glorificação da PF e a declaração do presidente. Essa contradição é enquadrada como marca da incoerência e desorganização do governo, bem como um ataque à PF. Lula, por sua vez, é taxado negativamente de “mau-cartismo”, “revanchismo”, “ódio”, “senilidade”, “vingança”, “rancor” e “egoísmo”.
  • Ficam em destaque as manifestações de ator como os parlamentares Nikolas Ferreira (PL-MG), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ), Marcel van Hattem (NOVO-RS) e Deltan Dallagnol (PODE-PR), além do influenciador bolsonarista, Kim Paim e de perfis da imprensa tradicional, que veiculam as declarações de ambas as partes.
  • Lateralmente, apoiadores, como Thiago dos Reis e Lázaro Rosa, conseguem repercutir mensagens de defesa do presidente, concordando com ele. Outros apoiadores também veiculam informações que comprovariam a suspeita do presidente. Nota-se a ausência de uma narrativa e de atores favoráveis ao governo nos destaques do dia.
  • Em menor volume, o debate reacendeu a associação entre Lula e o crime organizando, acionado menções a possíveis relações entre o PT e o PCC e do presidente Lula com o assassinato de Celso Daniel;
  • Ao longo da semana, inclusive entre os dias 20 e 23, temas como a tentativa de associação entre Flávio Dino e o crime organizado a partir da visita ao Complexo da Maré, e os embates do governo com o Banco Central, também foram objeto de debate sobre o Governo Federal.

 

Principais termos relacionados ao Governo Federal no Twitter
Período: de 17 a 23 de março

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A discussão sobre o plano de ataque contra o senador Sergio Moro foi marcada por um notório protagonismo da oposição, especialmente de parlamentares alinhados ao ex-presidente Bolsonaro, como Nikolas Ferreira e Carlos Jordy. Em menor grau, no campo progressista, Benedita da Silva e Glauber Braga tiveram destaque ao elogiar a condução do governo no caso;
  • Foi frequente a sugestão de que o Governo Federal estaria “atrapalhado” devido às declarações conflitantes do presidente Lula e do ministro da Justiça Flávio Dino a respeito do plano de ataque do PCC contra o senador;
  • Fala-se especialmente do papel da PF no episódio, uma vez que Lula teria sugerido que haveria um conluio de Moro com a instituição, ao passo em que Dino afirmou que a PF teria desarticulado o plano de assassinato do ex-juiz. A divergência de opiniões virou alvo de ironias e foi lida pela oposição como um sinal de enfraquecimento político no âmbito do núcleo duro do governo;
  • No entanto, enquanto a fala de Dino parece ter sido melhor compreendida, inclusive pela oposição, que chegou a considerar positivo o seu posicionamento, Lula foi tachado de “imoral” e concentrou a maior parte das críticas por ter supostamente sugerido que desejaria “vingança” contra Moro;
  • Com alcance ligeiramente menor, o campo governista argumenta que Moro estaria a salvo por conta da “PF de Lula e Dino”. Fala-se também que o episódio ilustraria a imparcialidade de Dino, uma vez que o ministro não tentou mobilizar aparatos institucionais contra opositores;
  • Um argumento recorrente na oposição é de que o campo governista estaria se esforçando para mobilizar a narrativa de que Dino teria “salvado” Moro com o intuito de abafar as supostas ameaças de Lula contra Moro;
  • A visita de Flávio Dino ao Complexo da Maré foi um tema vastamente mobilizado no período em questão. Uma suposta declaração atribuída a policiais sobre Dino ter tido autorização do tráfico para entrar na comunidade foi um dos elementos utilizados para associar o ministro ao crime organizado;
  • Por outro lado, perfis governistas apontaram que a associação entre a comunidade e o tráfico seria preconceituosa e descabida, assim como a suposta relação de Dino com facções criminosas;
  • De maneira lateral, o episódio ainda foi associado à ameaça envolvendo Sergio Moro e serviu para reforçar a narrativa de que o governo como um todo manteria relações com o crime organizado.

Facebook

Links relacionados ao debate sobre a operação da PF contra o PCC no Facebook
Período: de 21 a 23 de março

 

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A operação que levou a prisão de membros do PCC que planejavam o assassinato do senador Sergio Moro e outras autoridades e as declarações do presidente Lula repercutiram de forma majoritariamente negativa para o governo federal, com destaque para críticas de veículos de direita e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nesse sentido, as declarações de Moro repudiando a fala de Lula sobre o caso ser “uma armação de Moro” tiveram grande destaque entre os links com maior volume de interações;
  • Também repercutiram declarações de parlamentares e lideranças políticas de direita, como os deputados Marco Feliciano e Deltan Dallagnol. As entrevistas do senador Sergio Moro logo após a declaração do presidente Lula também tiveram destaque e alimentaram o conteúdo dos portais de direita, como Jovem Pan News e Gazeta do Povo, que também repercutiram a possível abertura de um processo de impeachment contra o presidente. Já os portais O Antagonista e Jornal da Cidade Online se concentraram na fala de Lula, dando a entender que o presidente poderia estar defendendo e até escondendo uma relação do governo com o PCC;
  • Portais de esquerda e a mídia tradicional também se manifestaram sobre o caso, mas tiveram pouco engajamento, em comparação com os veículos de esquerda.

 

Telegram

Mensagens relacionadas ao debate sobre a operação da PF contra o PCC no Telegram
Período: de 17 a 23 de março

Fonte: Telegram | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A oposição ao governo protagoniza o debate sobre a operação da PF contra o PCC, embora grupos mais alinhados a Lula também procurem disputar a discussão. De modo geral, nota-se a tendência de utilizar falas do presidente para embasar a tese de que Lula e o PT teriam interesse em um atentado contra Sergio Moro ou, ainda, teriam agido diretamente contra a vida do senador.
  • Entre os tópicos debatidos, destaca-se a noção de que Lula estaria rindo e minimizando o plano de atentado contra Moro. O ministro Flávio Dino também é criticado, sobretudo por meio de mensagens que acionam o episódio para insinuar que Dino teria relações próximas com o narcotráfico do país. De modo lateral, circulam vídeos do YouTube, cujo teor é mais radicalizado, no sentido de afirmar que o senador estaria “na mira da morte” e que Lula seria “o suspeito número 1”.
  • Veículos hiperpartidários de direita, como Jornal da Cidade Online e Terra Brasil Notícias, se destacam neste processo, divulgando assiduamente os desdobramentos do caso, de modo a desgastar a imagem do governo. Figuras políticas alinhadas a Bolsonaro, como o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), endossam essa mobilização.
  • Aliados do governo, por sua vez, investem na narrativa de que Sergio Moro seria um “mentiroso compulsivo”. As críticas ao senador, no entanto, circulam de modo mais restrito e lateral.