13 maio

Operação no Jacarezinho fortalece discurso de perfis pró-governo, que dominam debate digital

Segurança Pública

Atualizado em 17 de maio, 2021 às 3:56 pm

  • Campos políticos se dividem entre posição em favor de políticas sociais, de um lado, e abordagem de repressão na segurança pública, com predomínio de perfis alinhados ao governo federal, no Facebook e no Twitter.
  • No Facebook, base aliada ao governo federal se destaca em atividade e engajamento, mas partidários da esquerda são atuantes e exibem números expressivos de publicações;
  • O baixo engajamento ‒ somente 2,5% das interações ‒ de coletivos e ativistas no debate público revela pouco alcance da mobilização dos grupos locais mais afetados pela operação;

Evolução do debate sobre segurança pública no Twitter
Período: de 12h de 05 de maio às 12h de 12 de maio de 2021

Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP

A operação policial ocorrida no Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro, no último dia 06, mobilizou diferentes campos políticos e acirrou o debate sobre segurança pública. No Twitter, foram identificadas, entre as 12h do dia 05 às 12h do dia 12 de maio, cerca de meio milhão de menções sobre o tema, que também abarcaram o episódio, segundo um levantamento da Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP). Ao longo do período da análise, coletivos e ativistas da periferia foram bastante atuantes, mas o momento de maior circulação de postagens e engajamento se dá com a entrada de políticos aliados ao governo federal e da esquerda institucional, com destaque para o PT e o Psol, no debate.

Mapa de interações do debate sobre segurança pública no Twitter
Período: de 12h de 05 de maio às 12h de 12 de maio de 2021

Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP

Azul ‒ 43,9% dos perfis | 57,5% das interações
Composto por políticos de direita, jornalistas e blogueiros conservadores, grupo ataca o posicionamento de políticos e ativistas de esquerda, bem como a imprensa tradicional, que trataria como vítimas traficantes e criminosos nas comunidades em geral e, especifica- mente, os moradores do Jacarezinho que morreram durante operação policial. Lamentando a morte de um policial civil durante a ação, muitas postagens parabenizam as forças de segurança do estado do Rio, além do Brasil de maneira ampla, e reconhecem os riscos e as dificuldades enfrentadas pela classe no exercício da profissão.

Vermelho ‒ 36,2% dos perfis | 31,3% das interações
Composto por políticos de esquerda, pesquisadores, jornalistas e canais de comunicação, grupo critica a operação policial que culmina na morte de mais de vinte e cinco moradores do Jacarezinho, questiona a segurança pública do Rio nomeando o evento de “massacre em jacarezinho”, “carnificina do Rio” e, ainda, manifestam indignação pela atitude violenta da polícia. Muitos perfis salientam a ausência do Estado, condenam a ação no Jacarezinho como um ato inconstitucional e e revoltam-se pelo fato de que alguns políticos de direita – como o vice-presidente Mourão (PRTB) – denominarem, sem provas, os mortos como “tudo bandido”, “traficantes do Jacarezinho”.

Rosa ‒ 5% dos perfis | 3,1% das interações
Grupo centrado em influenciadores digitais, advogados e ativistas sociais se revolta com as mais de 25 mortes decorrentes da operação policial no Jacarezinho. Enquanto algumas postagens criticam a truculência da polícia na ocasião, outros comentários responsabilizam o sucateamento das forças de segurança, a falta de recursos e de preparo estratégico das corporações pelo saldo negativo das ações policiais. Muitos perfis destacam, ainda, que os principais favorecidos por operações dessa natureza seriam apenas políticos e nunca os moradores das comunidades ou a população em geral.

Laranja ‒ 4% dos perfis | 2,5% das interações
Mobilizado por perfis de coletivos de comunidades do Rio e ativistas do movimento negro, grupo compartilha relatos e testemunhos de moradores do Jacarezinho sobre a operação policial na comunidade. Classificando a ação como trágica e desastrosa, postagens fazem um levantamento dos números e dos perfis dos mortos na ação e insistem na opinião de que a prática estaria longe de constituir uma solução eficaz para a criminalidade na cidade.

O Debate no Facebook

No Facebook, foram analisadas as publicações sobre segurança pública e a operação no Jacarezinho feitas pelos perfis dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores) com mandato vigente. No período foram postadas 787 publicações sobre o tema, por perfis de 253 parlamentares.

As publicações somaram 3,7 milhões de interações. Dessas, 494,4 mil foram reações, com destaque para reações de tristeza (27,6%), de raiva (25,6%) e risadas (24,2%). Vale também destacar que 170 publicações contiveram vídeos, que alcançaram 9,4 milhões de visualizações.

15 parlamentares com mais publicações sobre segurança pública no Facebook
Período: de 12h de 05 de maio às 12h de 12 de maio de 2021

Fonte: Facebook | Elaboração: FGV DAPP

15 parlamentares com mais interações em publicações sobre segurança pública no Facebook
Período: de 12h de 05 de maio às 12h de 12 de maio de 2021

Fonte: Facebook | Elaboração: FGV DAPP

Tanto em números de postagens quanto de engajamento, há uma predominância notória dos parlamentares alinhados ao governo federal, sendo onze dentre os quinze parlamentares que alçaram maior engajamento – inclusive os 6 principais – e nove no quesito de atividade no Facebook . No entanto, cabe ressaltar que referente ao volume de publicações, partidários da esquerda (PT e Psol) desempenharam atividade relevante, o que indica que houve esforços de mobilização e de disputa narrativa referente ao episódio. Entre os que exibem destaque e equilíbrio em ambas as métricas estão a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), o deputado federal Capitão Derrite (Progressistas-SP) e a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR). Nota-se a ausência de legendas fora dos pólos ideológicos na disputa.