Nova onda de Covid lidera preocupações em São Paulo, no Twitter; Segurança pública desponta no debate no Rio
Atualizado em 27 de novembro, 2020 às 12:08 pm
- De acordo com estudo da FGV DAPP, entre 16 e 23 de novembro foram mais de 51 mil menções a preocupações com a saúde entre usuários baseados na capital paulista;
- Já no Rio de Janeiro, o debate esteve mais concentrado em temas ligados ao papel de milícias na política da cidade, com 22 mil menções, seguido também pela saúde;
- Em Porto Alegre, reta final foi marcada pela morte de João Alberto em um supermercado; enquanto em Recife, saúde e segurança tiveram papel mais equilibrado;
- Estudo analisou ainda menções a educação, em geral em terceiro lugar nesse período, transporte e as denúncias de fake news, usualmente mobilizadas nesse momento.
A poucos dias do 2º turno das eleições municipais brasileiras, o debate público no Twitter tem indicado, na última semana, ênfases distintas entre as preocupações nas principais capitais do país. Segundo análise da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP), em São Paulo, ganhou força a discussão sobre a possibilidade de uma segunda onda de Covid-19, levando a questionamentos sobre um recrudescimento das medidas de isolamento social logo após o pleito.
De acordo com estudo da FGV DAPP, entre 16 e 23 de novembro foram mais de 51 mil menções ao tema entre usuários baseados na capital paulista. Já no Rio de Janeiro, o debate esteve mais concentrado em tema ligados à segurança pública, sobretudo em relação ao papel de milícias na política da cidade, com 22 mil menções.
Em Porto Alegre, por sua vez, o tema mais mencionado no período foi racismo, em decorrência da morte de João Alberto Freitas em um supermercado Carrefour na última sexta-feira, alcançado 64 mil mensagens (um número bastante expressivo para a cidade) e impulsionando também o debate sobre segurança pública. E, em Recife, com bem menos menções a debates temáticos no período, houve um maior equilíbrio entre a saúde (em primeiro) e a segurança pública.
Questões relacionadas a educação, em geral, apareceram com algum destaque no período mencionado, mas sem o protagonismo que as questões de saúde e segurança. Além disso, foram monitorados debates sobre transporte e também as denúncias de “fake news” em geral, usualmente bastante exploradas em reta final de campanha.
Em São Paulo, segunda onda de Covid preocupa
Entre 16 e 23 de novembro de 2020, análise da FGV DAPP identificou 11,2 mil menções ao tema da educação no debate a respeito da cidade de São Paulo. O debate está marcado por ataques à gestão do setor pelo candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), que miram a atuação truculenta da polícia em manifestações de professores da rede municipal contra diminuição de salário, em 2019, e o envolvimento do seu vice, Ricardo Nunes, na “máfia das creches”, um esquema de desvios nas unidades conveniadas da Prefeitura.
Temas críticos no debate sobre São Paulo no Twitter
Período de análise: de 16 de novembro até 23 de novembro
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Quanto à situação da saúde na capital paulista, o debate ‒ que totalizou 51,5 mil postagens ‒ destacou a chegada de 120 mil doses da vacina Coronavac na cidade, na quinta (19). Seguem com forte repercussão nessa parte do debate, ainda, críticas a medidas de isolamento social definidas pelo governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e a promessa do tucano de tornar obrigatória a vacinação contra a COVID-19 no estado.
No período analisado, foram identificadas 5,2 mil menções ao transporte público em São Paulo. O debate reclama da má gestão de Bruno Covas no setor, que teria mudado regras no vale-transporte, prejudicando grande parte da população, e corroborado com o cartel de empresas de ônibus na capital. Outras postagens, por outro lado, rebatem a viabilidade da promessa de Guilherme Boulos para passe livre no município, com questionamentos sobre onde o candidato conseguiria o dinheiro para executá-la.
Já o debate sobre segurança em São Paulo alcançou 27,4 mil postagens e focou em casos pontuais, como uma operação da Polícia Federal contra o tráfico de drogas no país, que cumpriu mandados de prisão e apreensão em São Paulo e em outros estados brasileiros, e denúncias contra uma mulher que teria agredido, com ofensas homofóbicas e racistas, clientes e funcionários de uma padaria da Zona Oeste da capital.
Atos em um supermercado da rede Carrefour em São Paulo também marcam a discussão sobre racismo na capital paulista, o que foi assunto de 7,5 mil menções. Ganhou grande repercussão o fato de os manifestantes terem ateado fogo no supermercado em protesto contra o assassinato de João Alberto Freitas, em Porto Alegre.
Grande parte do debate sobre desinformação ‒ com 3,5 mil postagens, por sua vez, sugere que a campanha de Bruno Covas se sustentaria na disseminação de acusações falsas contra Guilherme Boulos ou apoiadores do seu adversário ‒ como a afirmação, durante debate no canal de televisão CNN, de que Fernando Haddad (PT) teria lhe entregado a Prefeitura de São Paulo com um rombo nas contas públicas.
No Rio, a ação de milícias na política lidera as menções
Com a aproximação do segundo turno das eleições municipais em algumas cidades brasileiras, temas crítico entram no radar do debate público no Twitter. Entre 16 e 23 de novembro de 2020, por exemplo, foram identificadas 13,5 mil menções à situação da saúde no Rio de Janeiro, segundo o estudo. Grande parte do debate preocupação com o recente aumento da taxa de ocupação de leitos de UTI por pacientes de COVID-19, que estaria próxima aos números do início da pandemia. Comentários criticam, principalmente, a realização de festas em bares e quadras de escola de samba cariocas durante o que suspeitam ser a segunda onda de contaminação pela doença.
Temas críticos no debate sobre o Rio de Janeiro no Twitter
Período de análise: de 16 de novembro até 23 de novembro
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
O estudo contabilizou, ainda, 13,5 mil postagens com referência à educação na capital fluminense. Essa parte do debate se mobilizou em torno da declaração do candidato à reeleição Marcelo Crivella (Republicanos), em vídeo que circula nas redes, de que, se eleito, seu adversário no pleito, Eduardo Paes (DEM), colocaria a educação do Rio nas mãos do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que fomentaria a pedofilia e o uso de drogas nas escolas cariocas.
Já, assunto de 3,6 mil postagens no período analisado, o transporte público no Rio foi mobilizado no Twitter por, dentre outras coisas, a notícia que implica o candidato à Prefeitura Eduardo Paes (DEM) em irregularidades em licitações de empresas de ônibus na sua antiga administração. Compartilhando fotos e vídeos, outras postagens, ainda, denunciam a situação precária das estações de BRT como resultado da gestão Crivella.
Foram identificadas, também, 22 mil menções ao tema de segurança na capital fluminense. Postagens destacam o envolvimento endêmico das milícias na política carioca ‒ as quais teriam influência, inclusive, sobre o resultado das eleições no município. Com relação à discriminação racial, especificamente, o debate sobre o Rio somou 2,7 mil postagens e circulou imagens de protestos na cidade contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, em um supermercado de Porto Alegre (RS), bem como depoimentos de outros casos de racismo envolvendo uma filial do supermercado no Rio. Além disso, houve quem contestasse a alegação de que não haveria racismo no Brasil apontados dados sobre o número de negros assassinados, sobretudo, nas comunidades cariocas.
Por fim, o debate sobre desinformação o município contabilizou 1,8 mil tuítes e mirou a campanha de Marcelo Crivella no segundo turno das eleições cariocas. Acabou sendo taxada de “fake news” a acusação feita pelo pastor de que partidos que apoiam Paes, caso ele venha ser eleito, promoveriam a pedofilia nas escolas cariocas.
Em Porto Alegre, reta final foi marcada pela morte de João Alberto
O debate sobre educação em Porto Alegre contabilizou 1,2 mil menções no período analisado. Maior parte das postagens tem declarado apoio à candidata à Prefeitura Manuela D’Ávila (PCdoB) por conta das suas promessas de, dentre outras coisas, ampliação de “vagas em creches” e criação de “escolas de turno integral” para promover a capital gaúcha como uma “cidade educadora”.
No que se refere à saúde, foram identificadas 4,3 mil menções, as quais destacaram a internação do deputado federal Osmar Terra (MDB) em um hospital de Porto Alegre por conta de complicações da COVID-19, bem como o fato de o deputado ter, desde o início da pandemia, subestimado a gravidade da doença.
Já, com 1,4 mil postagens, o debate sobre transporte público também se concentrou em propostas de Manuela D’Ávila para o setor. Enquanto alguns confiam na sua promessa de melhorar a qualidade dos ônibus e baixar a o valor da passagem dos coletivos, muitos não se mostram convencidos pela sua proposta de criação de um aplicativo de transporte público e sobre o reajuste das tarifas de ônibus.
Os debates tanto sobre segurança pública quanto sobre discrimanção racial, em Porto Alegre, foram pautados pelo assassinato de um homem negro pelos seguranças de uma unidade do Carrefour na Zona Norte da capital gaúcha, na noite de quinta (21). Grande parte das 36,1 mil menções à segurança do município destacou a informação de que um dos agressores seria policial militar, o que atestaria o despreparo dos agentes de segurança. Com 64,3 mil postagens, o debate sobre racismo manifestou indignação pelo episódio e lamentou que ele tenha ocorrido às vèsperas do Dia da Consciência Negra.
Foram identificadas cerca de 2,9 mil menções ao tema da desinformação. Maior parte dos comentários faz alertas sobre ataques sofridos por Manuela D’Ávila, que desde a sua candidatura a vice-presidente da República, em 2018, seria alvo de notícias falsas.
Temas críticos no debate sobre o Porto Alegre no Twitter
Período de análise: de 16 de novembro até 23 de novembro
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Em Recife, debate foi mais equilibrado em saúde e segurança
No debate sobre Recife, o tema da educação apareceu em 1,8 mil menções no Twitter, no período analisado. As postagens relembraram a atuação da candidata Marília Arraes (PT) na greve dos professores por reajuste salarial, em 2015, quando era vereadora da capital pernambucana. Além disso, comparam a trajetória da candidata petista, que é professora e já comandou a comissão de políticas públicas da juventude, com o suposto despreparo do seu adverśario, João Campos (PSB), cuja experiência na política seria muito curta.
O estudo da FGV DAPP identificou, também, 2,6 mil postagens com referência à situação da saúde na capital pernambucana. Essa parte do debate manifesta preocupação com os novos números da segunda onda de contágio da COVID-19 e aposta na eleição de Marília Arraes ‒ que vem prometendo a compra de vacinas contra a doença ‒ para o combate efetivo à pandemia no município.
Já as 900 postagens que abordam o transporte em Recife destacam a recente greve de motoristas e cobradores na região metropolitana, que reivindica o cumprimento da lei que proíbe dupla função nos coletivos; críticas de Marília Arraes à situação atual das ciclofaixas da cidade, que não seriam úteis ao trabalhador; e o alegado desconhecimento de João Campos sobre o transporte público no município.
O principal tema das 570 postagens sobre a segurança pública em Recife diz respeito à atuação da forças poiciais em protestos na cidade motivados pelo assassinato de João Alberto Freitas, em Porto Alegre. Muitas postagens denunciam a truculência dos agentes de segurança durante os atos.
O assassinato de um homem negro por seguranças de um suprmercado Carrefour, em Porto Alegre, reacendeu a discussão sobre outro episódio polêmico envolvendo uma unidade da rede na capital pernambucana. Maior parte das 990 mil postagens sobre racismo relembra o caso em que, após falecer no interior da loja, um dos funcionários foi coberto com guarda-sóis, e o estabelecimento seguiu funcionando normalmente.
Temas críticos no debate sobre o Recife no Twitter
Período de análise: de 16 de novembro até 23 de novembro
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Finalmente, o debate a respeito de desinformação contabilizou 1,7 mil menções, as quais acusam João Campos de espalhar informações falsas contra a sua adversária, Marília Arraes, na corrida eleitoral à Prefeitura recifense. Postagens alertam sobre a circulação de panfletos que associam a candidata petista ao aborto, à suposta ideologia de gênero, à legalização das drogas e a práticas de intolerância religiosa.