31 mar

Mudanças no governo reforçam isolamento da base de apoio ao presidente Bolsonaro nas redes sociais

Reforma ministerial dominou o debate político

Atualizado em 31 de março, 2021 às 11:49 am

  • Perfis da base governista recuam a 12% do total, enquanto usuários críticos chegam a 26%. Mais ativos, no entanto, governistas respondem por 31% das interações, contra 29% de interações geradas pelos opositores;
  • Base do governo busca enquadrar reforma como fortalecimento do governo, mas saída coletiva do comando das forças armadas diminui ímpeto das narrativas.

Entre as 12h de segunda-feira (29) e as 14h de terça (30), foram identificadas mais de 4,51 milhões de postagens no Twitter sobre a situação política, econômica e sanitária do Brasil, segundo um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP). O debate foi marcado por três momentos de grande agitação na plataforma, que contabilizaram uma média de 259 mil tuítes. O primeiro ocorreu às 12h de segunda, com a confirmação da saída de Ernesto Araújo do comando do Ministério das Relações Exteriores; o segundo, às 18h, logo após o anúncio da demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; e o último aconteceu às 23h, após a divulgação da carta em que Ernesto Araújo pede ao presidente Jair Bolsonaro demissão da pasta.

Evolução do debate político e sanitário no Twitter
Período: das 12h de 29 março às 14h de 30 de março

As mudanças em diferentes esferas do governo federal voltaram a impulsionar o debate político no Twitter no final da manhã e início da tarde de terça (30). Alvo de especulações desde o dia anterior, a decisão dos três comandantes das Forças Armadas de entregarem os seus cargos ‒ em resposta à demissão do agora ex-ministro Fernando Azevedo e Silva (Defesa) ‒ manteve o debate em torno de 189,1 mil postagens às 13h.

Mapa de interações do debate político e sanitário no Twitter
Período: das 12h de 29 março às 14h de 30 de março

Azul ‒ 12% dos perfis | 30,7% das interações
Conjunto formado por influenciadores e membros do governo, foi marcado por tuítes que reforçaram a confiança na condução política de Jair Bolsonaro, como na mobilização em torno da hashtag #OPovoEstaComBolsonaro. A saída do ministro Ernesto Araújo foi classificada como uma derrota para os setores mais ideologizados do governo, mas o anúncio da substituição dos outros ministros alterou o humor do conjunto. Em especial, destacam-se as saídas do ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e do ex-Advogado Geral da União, José Levi. A possibilidade da troca no comando do Exército, com a saída do General Edson Pujol, foi inicialmente avaliada como um sinal do fortalecimento interno de Bolsonaro. O anúncio da saída coletiva dos comandantes das três Forças Armadas, no entanto, foi recebido com sobriedade ou silêncio, com apenas poucos tuítes que buscaram associar o alto comando das forças armadas ao globalismo.

Amarelo ‒ 25,9% dos perfis | 29,4% das interações
Liderado por influenciadores digitais, jornalistas, canais da imprensa tradicional e de mídia alternativa, o grupo interpreta as seguidas mudanças nas pastas ministeriais em tão pouco tempo como sendo reflexo de um suposto enfraquecimento do governo federal. Prevendo uma eventual crise militar decorrente, principalmente, da demissão de Fernando Azevedo e Silva do comando do Ministério da Defesa, postagens insinuam que Jair Bolsonaro estaria perdendo um dos pilares mais importantes do seu governo. E, suspeitando consequências mais graves da saída do general ‒ nesse caso, sobre a situação das Forças Armadas ‒, muitos perfis temem a possibilidade de um golpe de Estado e reivindicam o impeachment ou, ainda, a renúncia do presidente. As hashtags #renunciabolsonaro e #forabolsonaro aparecem em 23,9 mil e 17,9 mil postagens, respectivamente.

Rosa ‒ 50,2% dos perfis | 36,4% das interações
Grupo que conta com influenciadores digitais e perfis de usuários comuns se concentra em comentar os números recentes e o impacto da pandemia de Covid-19 no cotidiano das pessoas, fazendo eventuais relações desse cenário com o reality Big Brother Brasil. Muitas postagens lamentam a média de 3 mil mortes pela doença no país e trazem relatos de casos pontuais ‒ como os de pessoas sendo vacinadas ou morrendo em filas de unidades de saúde à espera de leitos. Alguns perfis comentam, ainda, a falta de consciência e de sensibilidade de participantes do BBB diante do colapso da saúde no país.

Facebook

No Facebook, foram coletadas mais de 7 mil postagens que foram publicadas em 2,9 mil páginas com mais de 50 mil seguidores e perfis verificados. Essas publicações alcançaram 2,9 milhões de interações, com picos às 12h e 16h de 29 de março e às 13h do dia 30.

Páginas com mais interações no debate sobre a reforma ministerial e a crise nas forças armadas
Período: das 12h de 29 março às 14h de 30 de março

A análise dos principais atores do debate mostra que das 20 páginas e perfis com mais interações 7 foram perfis ligados ao governo, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o presidente Jair Bolsonaro e a presidente da comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Bia Kicis (PSL-DF). Apenas cinco páginas de oposição ao governo figuraram na lista, mas as páginas do senador Humberto Costa e do coletivo de mídia independente Mídia Ninja foram as que obtiveram mais interações entre todas. Há, também, grande presença de páginas de veículos de imprensa, como Uol Notícias, G1 e Estadão, que somaram 323 mil interações.