01 fev

Em 4 dias, número de vídeos no Youtube sobre o coronavírus em português teve aumento de 500%

No Twitter, já são mais de 1,2 milhão de postagens sobre o vírus no país, com 7,1 milhões de interações em links compartilhados no Facebook

Atualizado em 19 de fevereiro, 2020 às 11:20 am

No Youtube — como usual —, vem aumentando de forma exponencial a publicação e divulgação de vídeos sobre o coronavírus no Brasil, mantendo-se entre os vídeos mais visualizados (com centenas de milhares de visualizações), vídeos apócrifos e de fontes não confiáveis (ou médicas) com hipóteses conspiratórias ou ilações sem fundamento científico para falar sobre o tema.

>> Confira reportagem completa no Jornal Nacional sobre o tema: 

Até a terça-feira (27), haviam sido identificados 360 vídeos no Youtube em português sobre o caso, com somadas 3,1 milhões de visualizações. Até as 10h desta sexta (30), contudo, são 1.137, com somadas 18,6 milhões de visualizações, dentre os quais 43 têm mais de 100 mil visualizações e muitos apontam a mentiras já negadas por autoridades (como a “informação” de que uma pessoa já morreu com o vírus no país) ou hipóteses sem lastro, como o de um canal que discute se a epidemia não é resultado de um vírus “implantado” na população chinesa.

Também há um vídeo que especula sobre possível uso bioquímico do vírus no contexto da geopolítica internacional e local. Ambos têm mais de 100 mil visualizações na plataforma. Outro vídeo, com mais de 200 mil visualizações, afirma que a epidemia “saiu de controle” no Brasil e exige o cancelamento do carnaval. Outras postagens, com tom alarmista e sem o uso de informações e boletins oficiais, especulam sobre contornos apocalípticos se a epidemia se alastrar pelo mundo todo, com previsões não balizadas.

Outro vídeo, com 182 mil visualizações, discute “se o vírus não é uma estratégia internacional para controle da superpopulação”, acusando a Nova Ordem Mundial de espalhá-la. E um vídeo, do canal Esdras Prado, afirma que já houve morte no Brasil por causa do vírus e acusa o governo de omitir a “verdade”. Tem 23,5 mil visualizações. Vídeos também aproveitam o ensejo da discussão sobre as origens da contaminação para criticar a população chinesa por hábitos alimentares e para discutir “o papel da sopa de morcego” para a situação.

TWITTER E FACEBOOK

No Twitter, até 21 de janeiro, o volume de debate sobre o assunto no país manteve-se baixo, inferior a 10 mil postagens/dia no Twitter. No entanto, a partir dessa data, o debate aumentou de forma vertiginosa, chegando a 341,5 mil menções em 29 de janeiro. Até as 12h de sexta (31), já são 1,2 milhão de tuítes no Brasil, e com forte ênfase no debate de tom xenofóbico sobre os chineses, acusando-os por conta da “sopa de morcego”. Duas das vinte postagens com mais compartilhamentos na rede social abordam a questão, e 8% dos tuítes, ao todo, citam o morcego:

 

No Facebook, o impacto do coronavírus é ainda maior: desde 14 de janeiro, são mais de 21 mil links em português compartilhados na plataforma sobre o tema (entre sites da imprensa profissional, blogs e portais sem lastro informativo), com soma geral de 7,1 milhões de interações — soma de reações, comentários e compartilhamentos.

A maior parte dos links de maior impacto vem da imprensa profissional, com informativos sobre o número de casos e a disseminação mundial da epidemia, mas o tópico de maior destaque, com folgas, é a suspeita de que a “sopa de morcego” foi catalisadora dos primeiros infectados. Foram 2 mil links no Facebook a destacar esse tópico, com 2 milhões de interações obtidas.

Dentre os 20 links de maior volume de interações, predominam links de jornais brasileiros, mas também há postagens de veículos alternativos e sem verificação de fontes que destacam ênfase alarmista e críticas à China, acusando o país de mentir sobre a disseminação do coronavírus e, citando “fontes chinesas”, fazem panorama não confirmado por órgãos internacionais de saúde pública sobre a escala de infectados.

Impacto econômico do coronavírus tem aumento de discussão no Brasil

Dentre os muitos subtemas associados à epidemia internacional do coronavírus, o impacto que pode sofrer a economia chinesa e mundial com o problema vem sendo ressaltado no Brasil (e em ritmo crescente de preocupação para os brasileiros), tanto no Twitter quanto no Facebook e no Youtube. Esta semana, já são 18 mil as postagens que associam o coronavírus ao aumento do dólar, a prejuízos nas exportações e ao impacto para a recuperação da economia brasileira. As quedas em bolsas e ações respondem por 16% das postagens na rede, enquanto a alta do dólar é citada em 14% dos tuítes, e o Ibovespa em 12%;

No Facebook, 383 links repercutem o impacto do coronavírus sobre os mercados, com soma de 248 mil interações (comentários, reações ou compartilhamentos). Para além da bolsa, da alta do dólar e da discussão sobre quão prejudicial para a economia brasileira será a contínua propagação do vírus, links com bom volume de engajamento também abordam, de forma mais específica, o prejuízo para as exportações do agronegócio. Já no Youtube, um dos vídeos sobre o coronavírus mais assistidos (160 mil visualizações) aborda especificamente o “temor” que derrubou os mercados esta semana.

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.