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Disputa acirrada por protagonismo nas redes e isolamento do grupo bolsonarista com apoio da terceira via a Lula marcam segundo turno

Atualizado em 1 de novembro, 2022 às 6:26 pm

  • No segundo turno, Bolsonaro apresentou maior volume de interações no Instagram, TikTok e Facebook, Lula se destacou no Twitter e YouTube;
  • No Twitter, conjunto da esquerda é fortalecido pela terceira via e influenciadores e alcança maior parte dos perfis e interações; grupo alinhado a Bolsonaro soma menos de 20% de perfis na rede;
  • Entre as postagens com maior número de interações nas plataformas, Lula ganhou proeminência com vídeos junto a Simone Tebet no YouTube e com posts sobre suas visitas às regiões Sudeste e Sul no Facebook.
    Enquanto no TikTok Lula procurou dialogar com um público mais jovem, ao adicionar referências de K-pop em seus vídeos, no Instagram, o diálogo foi travado com religiosos. No Twitter, o petista obteve destaque com postagens que fazem oposição a Bolsonaro;
  • O candidato à reeleição apresentou um alto volume de interações ao explicitar a opinião de aliados e apoiadores, como Neymar e Gusttavo Lima, sobretudo, no Facebook e no YouTube;
  • Já no TikTok e no Instagram de Bolsonaro, a retórica que se destaca é similar, com posts anti-sistema e que criminalizam a esquerda. No Twitter, o presidente obteve protagonismo ao opinar sobre Roberto Jefferson e ao comentar o resultado do primeiro turno;
  • O debate sobre segurança segue em evidência. Associações entre Lula e o crime organizado e o episódio envolvendo Roberto Jefferson deram o tom da discussão;
  • A religião que, geralmente, aparece de modo mais lateral, obteve destaque. Vinculações entre Bolsonaro e a maçonaria, além da noção de que Lula poderia fechar igrejas, pautam este debate.

 

Seguindo a tendência observada no primeiro turno, a hegemonia nas redes que Jair Bolsonaro registrou em 2018 foi diluída e abriu espaço para um acirramento equilibrado com a campanha petista. Na reta final das eleições, Bolsonaro apresentou maior volume de interações no Instagram, TikTok e Facebook, enquanto Lula se destacou no Twitter e no YouTube. É o que mostra o levantamento da Escola de Comunicação da FGV, que analisou 92 milhões de mensagens sobre os presidenciáveis no período de campanha do segundo turno.

Já no mapa de interações baseado em dados do Twitter, o grupo formado por Bolsonaro e apoiadores aparece recuado, enquanto o conjunto constituído por Lula e aliados se fortalece com o apoio da terceira via. A esquerda aparece à frente tanto no número de perfis, com 23,5%, quanto no número de interações, concentrando 55,6% do total. Grupo registrou fortalecimento e maior poder de comunicação com clusters aliados, o que gerou isolamento significativo do grupo bolsonarista.

 

Mapa de interações – Twitter

Mapa de interações de menções a presidenciáveis no debate sobre eleições no Twitter
Período: de 03 a 26 de outubro

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

Direita (Azul) ‒ 18,63% dos perfis | 37,79% das interações
Conjunto formado por Jair Bolsonaro e principais aliados, entre políticos, jornalistas e influenciadores. No grafo, aparece mais recuado e isolado, com pouco poder de comunicação com outros grupos. Ataques a governos do PT, campanhas de vira-voto e foco em discurso positivo sobre a economia, por parte do presidente, dão a tônica do conjunto.

Esquerda (Vermelho) ‒ 23,56% dos perfis | 55,68% das interações
Grupo constituído por Lula e aliados, como políticos e influenciadores de esquerda e perfis antibolsonaristas. Felipe Neto, Guilherme Boulos e André Janones foram os nomes de maior destaque no conjunto. Declaração de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas e denúncias de corrupção do governo pautaram as principais discussões, além de ataques de eleitores do candidato a autoridades católicas.

Influenciadores anti-bolsonaro (Laranja) ‒ 38,27% dos perfis | 2,88% das interações
Composto por influenciadores de esquerda, páginas de entretenimento e atores políticos do campo progressista, o grupo critica o governo do presidente Bolsonaro e denunciam ações que consideram inadequadas para o presidente da República. Nesse sentido, se destacam conteúdos sobre a gestão da pandemia, o congelamento do orçamento da educação e um debate moral que foi associado ao presidente durante o segundo turno.

Terceira Via (Verde) ‒ 13,61% dos perfis | 3,59% das interações
Grupo composto por lideranças políticas, influenciadores e jornalistas que se colocaram como oposição a Lula e a Bolsonaro no primeiro turno, com destaque para Simone Tebet. Assim como a senadora, a maior parte do grupo critica o presidente Jair Bolsonaro e declara voto a Lula como forma de se opor ao presidente. No entanto, também é possível observar declarações de voto ao presidente Bolsonaro, como forma de impedir a eleição de Lula.

Principais tuítes dos grupos no mapa de interações do Twitter
Período: de 03 a 26 de outubro

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

Presidenciáveis e Temas no Twitter

Menções aos presidenciáveis no Twitter
Período: de 03 a 26 de outubro

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Jair Bolsonaro liderou as menções no período, com 49 milhões de registros provenientes de críticos, apoiadores e usuários não-alinhados. Lula, por sua vez, foi mencionado 33 milhões de vezes;
  • O pico de menções a ambos os presidenciáveis no período ocorreu no debate da Band, no dia 16 de outubro. A declaração de Jair Bolsonaro sobre meninas venezuelanas, proferida dois dias antes, deu o tom de parte significativa dos comentários no Twitter;
  • Críticas à presença de Sérgio Moro e à performance de Lula no debate, além do apontamento de supostas inverdades mencionadas pelo atual presidente, também estiveram no centro da discussão no pico referido;
  • A suposta associação de Bolsonaro com a maçonaria e questionamentos sobre a cristandade de Lula elevaram as menções a ambos de maneira significativa e adensaram o debate sobre religião, no início de outubro, entre críticas, memes e mensagens sensacionalistas;
  • O episódio envolvendo o político Roberto Jefferson motivou um montante numeroso de menções a Bolsonaro, em tom majoritariamente crítico ao presidente. Tentativas do mandatário de esconder relação pessoal e política com Jefferson motivaram mensagens em tom de denúncia e deboche por parte do campo progressista;
  • As menções a ambos os presidenciáveis encontraram um ponto de interseção uma única vez. Fake news atribuídas a Bolsonaro e críticas à suposta “parcialidade” do TSE em decisões favoráveis a Lula responderam pelo equilíbrio não usual de referências aos candidatos. Lula não esteve à frente de Bolsonaro em número de menções em nenhum momento.

 

Principais temas relacionados a eleição no Twitter
Período: de 03 a 26 de outubro

 

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • O debate sobre segurança continuou sendo destaque durante o segundo turno das eleições. Além da tentativa dos apoiadores do presidente Bolsonaro em relacionar o ex-presidente Lula ao crime organizado e tráfico de drogas – tema que havia sido explorado no primeiro turno – o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson e o suposto atentado envolvendo o candidato ao governo de SP, Tarcísio de Freitas, também tiveram destaque;
  • Ainda em segurança, as denúncias da campanha do presidente Bolsonaro relacionadas a inserções de rádio não veiculadas repercutiram nos dois campos políticos. Enquanto os apoiadores do presidente afirmam que há fraude eleitoral; já os apoiadores de Lula condenaram falas do presidente sobre o tema e o acusaram de planejar um golpe;
  • O Auxílio Brasil e o salário mínimo foram destaque no debate sobre economia, especialmente por apoiadores do ex-presidente Lula, que argumentam que Bolsonaro está usando o benefício para se eleger e criticam projeto do ministro Paulo Guedes para desindexar reajustes do salário mínimo da inflação. Em saúde, também se destacaram críticas ao presidente, relacionadas a gestão da pandemia;
  • A novidade entre os temas com maior destaque no debate eleitoral é a religião, que foi impulsionada por um vídeo em que o presidente Bolsonaro participa de uma atividade da maçonaria e vídeos de apoiadores do presidente nas celebrações de Nossa Senhora Aparecida, rendendo críticas ao presidente e questionamentos sobre seus “valores cristãos”. Críticas ao presidente Lula e afirmações de que ele fechará igrejas aparecem no debate, assim como conteúdos desmentindo essas acusações;
  • O bloqueio de recursos de universidades e colégios federais anunciado pelo governo e as declarações dos presidenciáveis durante o debate da Band foram responsáveis pelos picos no debate sobre educação. O debate também impulsionou a discussão em meio ambiente, especialmente a afirmativa de Bolsonaro sobre o governo de Lula ter sido o que mais desmatou e o debate sobre quem é responsável pela transposição do Rio São Francisco;

 

Interações em perfis de presidenciáveis

Twitter

Evolução de interações nos perfis de presidenciáveis no Twitter
Período de análise: de 03 a 26 de outubro | Agregado por semana

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • O ex-presidente Lula terminou o primeiro turno das eleições com um volume de interações no Twitter próximo do presidente Bolsonaro e, no segundo turno, consolidou essa posição. Nas postagens de maior destaque o presidente fala sobre o sigilo de 100 anos decretado em informações do governo Bolsonaro – que ele promete retirar -, desmente fake news associadas ao seu nome e agradece a declaração de voto do influencer Casemiro;
  • O presidente Jair Bolsonaro terminou o segundo turno atrás de Lula em número de interações no Instagram, no entanto, o presidente teve destaque em postagens falando sobre o resultado do primeiro turno, prometendo libertar o Brasil e afirmando que “há algo maior em jogo”. A declaração do presidente sobre o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson também teve grande repercussão na plataforma;

 

Facebook

Evolução de interações nos perfis de presidenciáveis no Facebook
Período de análise: de 03 a 26 de outubro | Agregado por semana

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

  • Bolsonaro obteve um maior domínio do Facebook, em termos de interações, do que Lula. Essa predominância se acentuou em alguns momentos durante o segundo turno da campanha eleitoral, com posts que comentam casos de violência ou ainda que evidenciam opiniões de aliados políticos, como Sílvia Waiãpi. A declaração de apoio de figuras do sertanejo, como Gusttavo Lima e Leonardo, em 17 de outubro, também gerou um aumento significativo das interações na página de Bolsonaro, aumentando a diferença em relação a Lula;
  • O ex-presidente, por outro lado, apresentou menos oscilações durante o período analisado, indicando uma maior estabilidade no número de interações em sua página. Em alguns poucos momentos, Lula conseguiu ultrapassar Bolsonaro, como durante suas visitas a Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio Grande do Sul. A entrevista de Lula ao podcast Desce a Letra Show também mobilizou um alto número de interações, deixando o petista na frente de Bolsonaro, ainda que o presidente tenha publicado sobre o caso Roberto Jefferson e sobre o apoio de Neymar.

Instagram

Evolução de interações nos perfis de presidenciáveis no Instagram
Período de análise: de 03 a 26 de outubro | Agregado por semana

Fonte: Instagram | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Durante o segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro continuou acumulando o maior volume de interações na plataforma, apesar de uma queda significativa na última semana de disputa. Entre os conteúdos de maior destaque, estão postagens em que o presidente se apresenta como o candidato anti-sistema, que vai lutar “contra tudo e contra todos”. Nas postagens, o presidente afirma que o que está em disputa não é uma eleição, mas sim a liberdade, os valores e o futuro do Brasil e critica as mentiras e ataques da campanha, atribuindo essas práticas ao adversário;
  • O ex-presidente Lula teve um desempenho inferior ao adversário no segundo turno das eleições, mas ultrapassou Bolsonaro em alguns momentos da disputa. Entre as postagens com maior volume de interações do petista, se destacam conteúdos que aproximam Lula do cristianismo e destacam sua religiosidade, vídeos que valorizam o apoio de artistas ao ex-presidente e momentos de descontração de Lula durante a campanha.

YouTube

Evolução de visualizações nos canais de presidenciáveis no YouTube
Período de análise: de 03 a 26 de outubro | Agregado por semana

Fonte: YouTube | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

A performance de Lula no YouTube se manteve estável e quase sempre superior à de Jair Bolsonaro, embora o canal oficial do atual presidente tenha quase 5 milhões de inscritos a mais do que o do petista;
Como em outros momentos da corrida eleitoral, o canal de Bolsonaro não teve protagonismo central na sua campanha, a não ser pelas lives semanais;
Foi justamente em um desses eventos, a “Live da Liberdade” com participação do jogador Neymar, que o mandatário furou a hegemonia de Lula e ultrapassou os altos índices do petista, com mais de 14 milhões de visualizações. O outro vídeo de maior repercussão foi a “Live da Liberdade” com o cantor Gusttavo Lima, com 5 milhões de espectadores;
Além de manter um desempenho estável na plataforma, Lula atingiu índices importantes, especialmente com vídeos que põem em foco o apoio recebido pela ex-presidenciável Simone Tebet. Três vídeos protagonizados por Tebet no canal lulista tiveram entre 5 a 9 milhões de visualizações, cada um;
Vídeos sobre o posicionamento de Lula sobre armas, o preço da gasolina e sugerindo que Bolsonaro tem raiva do Nordeste estiveram entre os outros vídeos mais assistidos do petista.

TikTok

Evolução de plays nos canais de presidenciáveis no TikTok
Período de análise: de 03 a 26 de outubro | Agregado por semana

Fonte: Tiktok | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • As performances de Lula e Jair Bolsonaro no Tiktok foram mais equilibradas do que no YouTube. No entanto, diferentemente da outra rede, esta registrou maior protagonismo do atual presidente;
  • Vídeos que debocham e/ou sugerem criminalização de pautas identitárias e dos partidos de esquerda, associados a uma estética “tosca” e de rápida assimilação, registraram os índices mais significativos no perfil de Bolsonaro;
  • Presidente também obteve destaque ao explorar sua relação com o Flamengo e ao acompanhar um coral infantil que entoou música em seu apoio;
  • Lula obteve destaque ao apresentar vídeos recebendo o apoio de crianças, além de ressaltar sua relação com os indígenas e o Nordeste e lançar mão de referências ao K-pop, visando a uma aproximação com um público mais jovem.