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Dia da votação é marcado por equilíbrio entre campos de apoio a Lula e Bolsonaro

Atualizado em 11 de outubro, 2022 às 5:26 pm

  • Bases de Lula e Bolsonaro se equilibram em torno de 20% em números de perfis. Base governista concentra alto volume de interações, mantendo predomínio de narrativa crítica a Lula;
  • Apoiadores de Bolsonaro citam o chamado “DataPovo” para indicar vitória no primeiro turno; eleitores de Lula seguiram defendendo o voto útil no petista;
  • Após divulgação de áudio em que líder do PCC teria declarado voto em Lula, associação entre o ex-presidente e a organização criminosa voltou a circular com ampla adesão da base bolsonarista. Veto a notícias sobre o tema fortaleceu a narrativa de “censura” do TSE.

O debate público digital durante o dia da eleição foi marcado por equilíbrio entre as bases de apoio a Lula e Bolsonaro, que tiveram em torno de 20% dos perfis cada, reforçando a polarização que vinha marcando a disputa durante o primeiro turno. Enquanto o campo progressista somado aglutinou 65% dos perfis no Twitter, na discussão sobre as eleições, a maior concentração das interações aconteceu entre apoiadores de Bolsonaro, com 36,2% do engajamento. Reforço da narrativa de criminalização de Lula e referência ao chamado “DataPovo” marcaram a tônica da base governista. É o que mostra o levantamento da Escola de Comunicação da FGV que analisou cerca de 1,6 milhão de tuítes sobre o pleito, das 16h de 1° de outubro às 16h de 02 de outubro.

Causando surpresa em relação a análises tradicionais por surveys presenciais e telefônicos, o debate sobre as eleições de 2022 nas redes sociais ao longo da campanha frustrou prognósticos de meios tradicionais, mostrando que as pesquisas em formato (canônico) presencial ou telefônico não explicam totalmente a dinâmica social. Votos envergonhados ou mudanças pelas redes em 48 horas estão mudando prognósticos de forma inesperada. Claramente pesquisas terão de ser crescentemente recalibradas pela internet e redes.

 

Mapa de interações – Twitter

 

Mapa de interações de menções a presidenciáveis no debate sobre eleições no Twitter
Período: das 16h do dia 01 às 16h do dia 02 de outubro

 

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

Influenciadores e antibolsonaristas não alinhados (Rosa) ‒ 22,03% dos perfis | 16,84% das interações
Agitado por influenciadores digitais e canais de entretenimento críticos ao governo federal, grupo comemora a vitória de Lula em países onde a eleição já se encerrou, como Nova Zelândia, Austrália e China. Perfis demonstram receio de saírem às ruas com as cores ou qualquer identificação do Partido dos Trabalhadores, em função de possíveis atitudes hostis de opositores, ao mesmo tempo em que lamentam que as cores da bandeira do Brasil teriam sido usurpadas pelo eleitorado conservador do país. Comentários lembram que muitos cidadãos não votarão nestas eleições, pois morreram devido à má gestão da pandemia de Covid-19 por parte do Executivo.

Direita (Azul) ‒ 20,82% dos perfis | 36,21% das interações
Grupo protagonizado pelo perfil de Jair Bolsonaro e seus apoiadores, como o jornalista Guilherme Fiuza. Entre os temas debatidos, destacam-se o vídeo de Donald Trump em apoio a Bolsonaro e a suposta relação entre Lula e o PCC. É alimentada a esperança de uma vitória do candidato à reeleição ainda no primeiro turno, indicando que o povo estaria ao lado de Bolsonaro.

Figuras políticas e ativistas de esquerda (Vermelho) ‒ 20,29% dos perfis | 29,03% das interações
Base constituída em torno do perfil de Lula e de outras figuras políticas da esquerda, como André Janones. De forma similar aos clusters rosa e laranja, há uma forte defesa da vitória de Lula no primeiro turno, ressaltando as ameaças à democracia, caso Bolsonaro se reeleja. O pedido do presidente para vetar a circulação de transporte gratuito no Rio de Janeiro também ganhou destaque.

Estudantes e personalidades de esquerda (Verde) ‒ 12,22% dos perfis | 5,60% das interações
Grupo formado por perfis de teor antibolsonarista, em geral estudantes jovens e personalidades que se posicionam à esquerda. Memes e frases de humor dão a tônica da maior parte das mensagens, assim como a manifestação de apoio a Lula por parte de setores específicos, ao exemplo de estudantes universitários.

Artistas e personalidades de esquerda (Amarelo) ‒ 5,67% dos perfis | 2,66% das interações
Orbitando celebridades e influenciadores digitais alinhados à esquerda, esse grupo reconhece como sendo útil o voto em Lula nestas eleições, reflexo da forte rejeição de Bolsonaro. Outras postagens se mostram otimistas quanto à vitória do petista já no primeiro turno, além de reforçar o compromisso que o futebol, no que se refere a seus atletas e torcedores, deve manter com a democracia.

Partidos e influenciadores de esquerda (Laranja) ‒ 5,15% dos perfis | 2,52% das interações
Base formada por partidos políticos de esquerda e influenciadores que apoiam o ex-presidente Lula, com destaque para os perfis do PT, Maria Bopp e Felipe Neto. O grupo mobiliza expectativas de uma vitória do petista ainda no primeiro turno, além de críticas a Bolsonaro e seus aliados. Há uma interseção entre os campos da política, do esporte e do entretenimento, com associações, por exemplo, entre Lula e o time do Flamengo.

Principais tuítes dos grupos no mapa de interações do Twitter
Período: das 16h do dia 01 às 16h do dia 02 de outubro

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

Presidenciáveis no Twitter

Menções aos candidatos à presidência no Twitter
Período: das 16h do dia 01 às 16h do dia 02 de outubro

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Lula e Bolsonaro evoluíram de forma bastante similar no debate sobre eleições no Twitter, com o petista ultrapassando o candidato à reeleição desde a manhã de domingo. Os outros candidatos aparecem bem atrás em número de menções;
  • Persistem postagens que defendem o voto útil no ex-presidente Lula para derrotar o bolsonarismo, especialmente com as divulgações das últimas pesquisas de opinião no início da noite de ontem, quando o petista teve um pico de menções;
  • As recentes declarações de Bolsonaro sobre uma vitória com cerca de 60% dos votos ainda no primeiro turno pautam a discussão da véspera e do dia das eleições, com apoiadores disseminando o mesmo tom despreocupado. Há uma forte confiança no “Datapovo”, motivado, sobretudo, pela grande quantidade de pessoas trajando verde e amarelo nas ruas. Entende-se que este critério seria mais confiável do que os índices dos institutos de pesquisa;
  • Ao longo do dia, repercussões da apuração em outros países são compartilhadas por ambos os campos, exaltando as vitórias de seus respectivos candidatos. Destaca-se ainda a tentativa, por parte de bolsonaristas, de desmerecer as vitórias de Lula no exterior, considerando que o petista ganhou na maioria dos países. Para tanto, afirma-se que o voto que realmente importa é aquele computado em território brasileiro.

 

Nuvem de palavras sobre Eleições 2022
Período: das 16h do dia 01 às 16h do dia 02 de outubro

 

 

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • O termo ex-presidiário, em referência a Lula, foi catapultado pela base bolsonarista como estratégia para “criminalizar” o candidato e tentar deslegitimar a escolha pelo petista nas últimas horas antes da eleição;
  • Vídeo de eleitor de Bolsonaro filmando o ato de votação e debochando da regra do TSE motivou a viralização do termo crime eleitoral. Aliados do presidente celebraram o ato, enquanto perfis progressistas acionaram o tribunal para punir o eleitor;
  • Perfis bolsonaristas circulam conteúdos desinformativos que associam o candidato petista a Marcola, chefe do PCC, o que motivou o uso do termo “crime organizado apoia Lula”. As postagens são acompanhadas de um link do site O Antagonista, já retirado de circulação, que trata de uma suposta interceptação da Polícia Federal onde o Marcola, líder da facção, teria declarado voto no ex-presidente;
  • Tentativa de fraude de voto em Portugal repercutiu em redes progressistas, também alçando o termo crime eleitoral. Em Lisboa, um homem vestido de verde e amarelo, que, pela vestimenta característica, foi identificado como um apoiador de Jair Bolsonaro, causou transtorno ao tentar votar duas vezes.