Desempenho de partidos de esquerda e medidas de isolamento são temas nas redes em eleição marcada por vitórias do centro
Grupos alinhados à direita celebram derrotas do PSOL, PCdoB e PT, mas se colocam como oposição aos vencedores
Atualizado em 7 de dezembro, 2020 às 12:00 pm
Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) identificou aproximadamente 421,1 mil menções no Twitter ao segundo turno das eleições municipais de São Paulo, entre as 17h de domingo (29) e as 12h de quarta (02). Considerando o resultado da apuração, grande parte do debate se presta a avaliações gerais sobre o desempenho das candidaturas de esquerda pelo Brasil, com muitas postagens afirmando o fortalecimento dos partidos no pleito. Muitos comentários, ainda, criticam a escolha da população paulistana, elencando questões da gestão do prefeito recém-reeleito, Bruno Covas (PSDB). Outro fator de forte mobilização do debate se deu em torno de declarações do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), a respeito das medidas de isolamento social no estado antes e depois do 2º turno das eleições municipais. Partindo, sobretudo, de perfis de direita, ataques ao governador apontam o que consideram contradição na sua decisão quanto às restrições durante a pandemia.
Evolução de menções ao 2º turno das eleições municipais
17h de 29 novembro às 12h de 02 de dezembro de 2020
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Grupo com mais perfis e interações, a base em Azul foi formada por influenciadores alinhados à direita, que celebraram as derrotas de Guilherme Boulos, em São Paulo, Manuela D’Ávila em Porto Alegre. As comemorações, no entanto, vieram acompanhadas de certo pessimismo em relação ao engajamento de setores deste campo, com apontamentos sobre o número recorde de abstenções e marcação de posicionamento como oposição à gestão de Covas. Entre os perfis de destaque, estão o deputado estadual Douglas Garcia (PTB-SP), o comentarista Rodrigo Constantino e os influenciadores Joaquin Teixeira e Luiz Galeazzo.
Mapa de interações sobre o 2º turno em São Paulo
das 17h de 29 novembro às 12h de 02 de dezembro de 2020
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
O grupo Amarelo também reuniu perfis críticos à esquerda. Destacam-se os perfis humorísticos “Corrupção Brasileira Memes” e Danilo Gentili que celebraram as derrotas de candidatos do PT, PCdoB e PSOL e criticaram eleitores de outros municípios opinando sobre as escolhas do eleitorado paulista.
Já a base em apoio a Guilherme Boulos foi formada por um conjunto de quatro grupos, que somaram 27% dos perfis e 27,9% das interações do debate. O principal grupo foi o Vermelho, que foi formado por políticos e influenciadores como Felipe Neto, Mídia Ninja, William De Lucca, Maria Bopp, Xico Sá, Marcelo Freixo e Sâmia Bomfim, além do próprio Guilherme Boulos, e destacou o estabelecimento de um rumo a ser seguido pela esquerda nos próximo anos e a consolidação de Boulos e Manuela como lideranças para esse contexto. A comunicação e as estratégias de campanha, especialmente as digitais, utilizadas por Boulos e Erundina foram celebradas como outro legado positivo para outros partidos e frentes de esquerda.
Por fim, as bases Rosa e Verde realizaram tuítes bem humorados e críticos à população paulistana. Formada por perfis de outros estados, fizeram comentários a partir da perspectiva de observadores externos, lamentando a escolha por Bruno Covas por meio de argumentos e também por piadas e memes.
Já o segundo turno no Rio de Janeiro foi assunto de mais de 141,4 mil postagens no Twitter, de acordo com o mesmo estudo. A derrota de Marcelo Crivella (Republicanos) nas urnas mobilizou reação positiva em grande parte do debate. Ao mesmo tempo, debate se mostra cauteloso com a eleição de Eduardo Paes (DEM), prometendo atenção e fiscalização de perto da gestão do novo prefeito eleito.
Mapa de interações sobre o 2º turno no Rio de Janeiro
das 17h de 29 novembro às 12h de 02 de dezembro de 2020
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Ancorado em perfis conservadores, o grupo Azul apresentou o comportamento mais coeso do debate, comentando sobre o grande contingente de votos nulos, brancos e abstenções no Rio, o qual teria superado os votos obtidos por Paes ou por Crivella.
A derrota de Marcelo Crivella foi comemorada por grupos que somaram 11,7% dos perfis e 11,8% das interações do debate. Os grupos Vermelho, Verde e Lilás, compostos majoritariamente por perfis ligados à esquerda, marcaram preferência por Paes em relação a Crivella, denominado como “pior prefeito da história da cidade”, ao mesmo tempo em que pontuaram também cautela com os rumos delineados pela próxima administração da cidade. Já os grupos Rosa e Amarelo se dividiram entre o endosso à vitória de Paes e posts bem humorados que imaginaram possíveis providências de Paes com base na memória de marcas positivas de sua gestão, como a expansão do BRT.
No mesmo período, foram identificadas 141,7 mil menções às eleições em Porto Alegre. Ao lado do desfecho das eleições paulistanas, a derrota de Manuela D’Ávila (PCdoB) foi apontada como evidência do enfraquecimento de parte da esquerda no país. O resultado das urnas da capital gaúcha também foi usado por perfis conservadores para insinuar a deficiência das pesquisas de intenção de voto. Por fim, o estudo contabilizou 75,9 mil postagens relativas ao segundo turno em Recife. A despeito de eventuais postagens parabenizando a participação de Marília Arraes (PT) no pleito, o debate aproveitou a derrota da petista para reforçar a narrativa de fortalecimento de outros partidos no país.
No Facebook, eleições de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife geram mais de 7,6 milhões de interações
No Facebook, o debate sobre as eleições de São Paulo e Porto Alegre somou mais de 15,7 mil posts em páginas e grupos públicos, sendo enquadrados de modo semelhante por conta das derrotas de candidatos de partidos de esquerda. Entre os principais influenciadores do campo conservador, destacam-se a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e o deputado estadual e candidato à prefeitura de São Paulo, Arthur Moledo do Val (DEM), conhecido pela alcunha “Mamãe Falei”, que somaram mais de 220 mil interações com imagens que ironizaram as derrotas de Boulos e Manuela D’Ávila. Enquanto o post de Bia Kicis destacou a derrota de candidatos socialistas, a imagem postada por Arthur do Val apostou no imaginário elitista em torno de parte dos candidatos de esquerda, misturando referências com o texto “Chora Leblon” junto às imagens dos dois candidatos.
Os principais atores relacionados à eleição do Rio de Janeiro também foram de partidos derrotados nos pleitos municipais. Entre quase 7,2 mil posts publicados em grupos e páginas públicas do Facebook, perfis ligados à esquerda se destacaram pelo grande número de interações. Das dez páginas e grupos públicos com mais interações, cinco são de veículos de imprensa (G1, Jornal Extra, RJTV, R7 e Jovem Pan News) e cinco quadros institucionais ou apoiadores da esquerda (Jandira Feghali, Mídia Ninja, Tico Santa Cruz Tarcísio Motta e Marcelo Freixo). Entre esses perfis houve a elaboração da narrativa de que Paes seria uma escolha melhor do que Crivella, ainda que com a marcação de distâncias no campo das ideias. Por fim, páginas de menor expressão voltadas para notícias e debates sobre temas de bairros da cidade publicaram mensagens humorísticas em que “perdoavam” equívocos e gafes da trajetória de Paes, valorizando a relação do então candidato com a cidade e seus símbolos.
Recife somou cerca de 4,3 mil posts de páginas e grupos públicos no período analisado. Com baixa interação de grupos conservadores ao longo do segundo turno, o fim das apurações fez com que esses perfis se voltassem para a capital de Pernambuco motivados pela derrota da candidata do PT, Marília Arraes, mas sobretudo, pela consolidação de que o PT não elegeu prefeitos em nenhuma capital do país. A vitória do PSB contra o PT na capital de Pernambuco também motivou menções no campo da esquerda, com mensagens que ressaltaram o sucesso da frente de partidos que apoiaram a candidatura de Campos, com destaque para o apoio de Flávio Dino (PCdoB) e Ciro Gomes (PDT).
Nuvem de palavras do 2º turno em São Paulo e Rio
17h de 29 novembro às 12h de 02 de dezembro de 2020