Declaração de aumento repentino de seguidores no Twitter chama atenção após compra da plataforma por Elon Musk
Atualizado em 28 de abril, 2022 às 12:17 pm
- Após tentativas de migração para plataformas como Parler, Gettr e Gab, grupo conservador celebra o “retorno” ao Twitter e se mostra esperançoso com a recuperação da “liberdade de expressão”;
- Cerca de 11% dos perfis engajados no debate manifestam receio ‒ alguns em tom de ironia ‒ de que o empresário passe a agir de maneira autoritária, desativando contas e permitindo discurso de ódio;
- Alta variação positiva do número de seguidores de perfis conservadores é destaque e é associada à compra da plataforma.
A notícia da compra do Twitter pelo empresário Elon Musk, no dia 25 de abril, agitou as redes sociais. Entre 6h de segunda (25) e 14h de terça (26), foram identificadas 418,8 mil postagens na plataforma referentes ao episódio, segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP). Às 17h de segunda, o debate teve seu momento de maior engajamento, somando 35,2 mil menções ao tema. Nesse momento, ganhava destaque o valor que o empresário teria desembolsado para adquirir a rede social: 44 bilhões de dólares.
Evolução do debate no Twitter sobre a compra da plataforma
Período: das 6h de 25 de abril às 14h de 26 de abril
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Das cinco principais hashtags do debate, três fazem referência trivial ao episódio, ora ao empresário, ora à plataforma: #elonmusk, em 4,6 mil tuítes; #elonmuskbuytwitter, em 4,4 mil tuítes; e #twitter, em 1,8 mil tuítes. Os outros dois indexadores, no entanto, destacam alguma opinião sobre a compra: #liberdade ‒ com 3,4 mil menções ‒ que insinua que a aquisição do Twitter por Musk garantiria a liberdade de expressão de seus usuários; e #riptwitter ‒ com 1,7 mil menções ‒, em postagens que alegam que, sob comando do empresário, a plataforma se tornaria “terra sem lei”.
Debate geral
Mapa de interações do debate no Twitter sobre a compra da plataforma
Período: das 6h de 25 de abril às 14h de 26 de abril
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Azul ‒ 37,21% dos perfis | 54,87% das interações
Orbitando blogueiros, influenciadores digitais e perfis e páginas de humor da base de apoio da direita, grupo circula rumores de que perfis conservadores no Twitter teriam ganhado um volume significativo de seguidores após o anúncio da compra da plataforma por Elon Musk. Muitos perfis repercutem, ainda, declarações do empresário reiterando a importância da liberdade de expressão para a garantia da democracia. Por fim, há postagens que questionam ‒ em tom irônico ‒ quando o Supremo intimaria Jair Bolsonaro sobre a decisão de Musk ou quando membros do Congresso tentariam intervir na compra junto à Corte.
Laranja ‒ 9,98% dos perfis | 8,14% das interações
Impulsionado por perfis de humor, acadêmicos e políticos de esquerda, o grupo vê com preocupação a compra do Twitter por Elon Musk. Dentre as críticas, postagens classificam como absurdo o valor desembolsado na negociação, comparando-o com a desigualdade econômica em nível mundial; contestam usuários que eventualmente defendem o empresário; e ameaçam excluir suas contas da plataforma.
Amarelo ‒ 6,10% dos perfis | 4,78% das interações
Mobilizando perfis de estudantes universitários, usuários comuns e páginas de entretenimento, esse grupo ironiza a compra do Twitter realizada por Elon Musk, satirizando a “autenticação de humanos” na plataforma e mencionando a possível destruição de uma plataforma saudável e feliz o tempo inteiro.
Rosa ‒ 5,97% dos perfis | 4,20% das interações
Composto por jornalistas, professores e escritores, esse grupo chama atenção para a possível mudança na plataforma em decorrência da compra realizada por um bilionário. As postagens enfatizam o fato de que o valor pago por Elon Musk poderia acabar com a fome no mundo e ainda evidenciam uma suposta tentativa de ameaça aos grupos marginalizados, uma vez que “defender a liberdade de expressão” para a plataforma acarretaria na reprodução do viés ideológico defendido pelo novo dono do Twitter e, consequentemente, no controle das narrativas que circulam na sociedade.
Lilás ‒ 5,15% dos perfis | 3,78% das interações
Grupo composto por jornalistas, perfis de humor e influenciadores digitais foca no compartilhamento de memes ‒ muitos em tom pessimista ‒ a respeito da aquisição do Twitter por Elon Musk. Postagens sugerem que, tendo domínio da plataforma, o empresário passaria a agir de modo autocrata, aplicando, por exemplo, sanções a contas que desagradassem o empresário e permitindo a circulação de discursos perigosos sob o pretexto da liberdade de expressão. Algumas postagens também manifestam surpresa diante do valor envolvido na negociação.
Principais tuítes dos grupos no mapa de interações
Período: das 6h de 25 de abril às 14h de 26 de abril
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Desempenho de perfis
Sem demonstrar ou atestar quaisquer relações de causalidade, alguns usuários do Twitter declararam que seus perfis tiveram um aumento significativo no número de seguidores após a compra da plataforma pelo empresário Elon Musk, no dia 25 de abril. Os usuários relevantes no debate que se referiram a este acontecimento se identificam com a base governista.
Variação de seguidores de perfis selecionados no Twitter
Período: de 0h de 24 de março a 14h de 26 de abril
Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP
Um desses perfis é o do ex-ministro do Turismo @gilsonmachadont. No último mês, de 24 de março a 24 de abril, a média de aumento ou de diminuição do número de seguidores em seu perfil no Twitter era de 406 perfis por dia. No dia 26 de abril, o ex-ministro ganhou 8.922 seguidores. A mesma situação ocorreu com o senador @flaviobolsonaro e com o humorista @cariocadelegado, que obtiveram média de 1221 e -32 seguidores entre 24 de março e 24 de abril, e obtiveram picos de ganhos de seguidores, em 26 de abril, de 13.533 e 13.541, respectivamente. O pico do aumento de seguidores de Gilson Machado, Flavio Bolsonaro e do humorista Carioca, foi de 22, 11 e 418 vezes maior do que a média observada entre 24 de março e 24 de abril, respectivamente.
Perfis alinhados à esquerda, não apresentaram variação tão expressiva. É o caso da página @desmentindobozo, que obteve média de 537 seguidores entre 24 de março e 24 de abril e pico de crescimento de 433, no dia 25 de abril. O mesmo ocorre com o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que obteve média de 322 seguidores entre 24 de março e 24 de abril e pico de crescimento de 345, no dia 25 de abril.
*Foram selecionados cinco perfis no campo da direita que declararam formalmente, em suas contas no Twitter, terem verificado um aumento significativo no número de seguidores na plataforma. A título de comparação, foram selecionados os cinco perfis com maior engajamento no campo da esquerda identificados no report elaborado pela FGV DAPP em 7 de abril de 2022.