Se você tiver apenas alguns segundos, leia estas linhas:

• A hashtag “#MacriMentiraNacional” foi a mais usada nos tuítes sobre o assunto. O apoio a Macri foi dispersado em várias hashtags, que juntas superaram a mais popular.
• A mensagem mais compartilhada foi um texto do discurso que se referia ao jornalismo, liberdade de imprensa e de expressão, publicado por @mauriciomacri.
• A divulgação do relatório de pobreza da UCA, horas antes do discurso, foi uma tendência no Twitter.

Na quinta-feira, 5 de dezembro de 2019, foi publicado o Decreto Presidencial 815/19 no Diário Oficial da República, tornando obrigatório para os presidentes em fim de mandato a utilização da cadeia nacional para transmitir “o estado da nação resultante dos quatro anos da sua administração”. No mesmo dia, às 20h, Mauricio Macri transmitiu uma mensagem gravada de 39 minutos em cadeia nacional, que utilizou pela primeira e única vez no seu mandato (exceto na abertura das sessões ordinárias no Congresso, o que está previsto na Constituição Nacional). Além da televisão aberta e do rádio, a mensagem foi difundida através das redes sociais de Macri e do canal Youtube da Casa Rosada.

O Chequeado analisou como este tópico foi discutido no Twitter do dia 5 de dezembro às 10h até o dia seguinte no mesmo horário. Detectou-se que houve 72.900 tuítes incluindo os termos “cadeia nacional” ou a hashtag “#CadenaNacional” (“cadeia nacional”). O pico de mensagens emitidas por minuto nesse período foi de 770.

No seu discurso, o Presidente, em fim de mandato, referiu-se aos objetivos com os quais iniciou o seu mandato, destacou os progressos em cada um deles e reconheceu os erros cometidos. Segundo o Trendsmap, o pico de atividade no Twitter foi registrado às 20h20, durante a cadeia nacional, quando Macri estava falando de sua gestão nos eixos “Desenvolvimento Humano” e depois “Economia”.

Cadeia nacional de Mauricio Macri no Twitter

Os dados referem-se à atividade no Twitter entre as 10h do dia 5 de Dezembro de 2019 e as 10h do dia 6 de Dezembro de 2019. Os números mostram a quantidade de tuítes na Argentina a cada 10 minutos.
Fonte: Elaborado pelo Chequeado com base na busca de palavras-chave do Trendsmap

Nos tuítes que incluíam os termos acima, também foram utilizadas outras hashtags. A que se destacou foi “#MacriMentiraNacional” (10,2%). As hashtags que apoiaram o presidente cessante foram mais dispersas. Juntas, superaram a primeira, que foi negativa, embora alguns usuários tenham usado várias das positivas em um mesmo tuíte. Seguiu-se no ranking “#7DGraciasMauricio” (“7D, obrigado, Mauricio”, com 5,8%), em referência à marcha do sábado, dia 7, na Plaza de Mayo para se despedir do Presidente; “#MauricioEstamosConVos” (“Mauricio estamos com você”, com 4,9%), “#7DYoVoy” (“7D, eu vou”, com 4,4%) e “#GraciasMauricio” (“Obrigado, Mauricio”, com 4,1%).

Após a cadeia nacional, uma série de imagens com frases de Macri foram publicadas a partir da conta presidencial. A mensagem mais compartilhada do período analisado coincidiu com uma delas. Se referia à ligação com o jornalismo, a liberdade de imprensa e de expressão. Afirmava que nunca tinha criticado um jornalista antes.

A segunda foi um tuíte que continha uma das primeiras frases do presidente: “Pela primeira vez em 100 anos, um governo não-peronista com uma minoria em ambas as câmaras termina o seu mandato. Esta é uma conquista para todos e um avanço para a nossa democracia”.

Além do conteúdo do discurso, houve outro tópico que motivou o debate. Horas antes da cadeia nacional, o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) apresentou uma prévia do relatório sobre a dívida social e as desigualdades na Argentina para o período 2010-2019. O relatório indica que, no terceiro trimestre de 2019, existem 32,1% dos lares e 40,8% das pessoas abaixo da linha de pobreza. É o “mais alto observado na década atual”, diz ele.

O diretor cessante do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC), Jorge Todesca, usou seu Twitter para dizer que a apresentação da UCA “junto com o discurso do presidente, é uma declaração política”. Ele o chamou de “lamentável” e gerou debates no Twitter. Teve 3 mil compartilhamentos, 7 mil curtidas e quase mil comentários. Sobre isso, Agustín Salvia, chefe do Observatório da Dívida Social da UCA, disse que “o relatório estava programado há um mês”.

Por fim, de acordo com a ferramenta Newswhip, o artigo relacionado ao tema “cadeia nacional” que mais se destacou em interações no Facebook (40 mil, considerando curtidas, comentários e compartilhamentos) foi publicado pelo Clarin.com.

Ela aponta que o Canal C5N acrescentou notas de rodapé enquanto a cadeia nacional estava sendo transmitida, o que é contra a lei de mídia audiovisual. O artigo 75 do decreto regulamentar estabelece que os canais de televisão abertos e as centrais de notícias devem transmitir a cadeia nacional “de forma integral, sem alterações, cortes, textos sobrepostos ou outras adições”. A chefe do Ente Nacional de Comunicaciones (ou Organismo Nacional de Comunicações, Enacom), Silvana Giudici, disse que poderia haver consequências para o canal, de “remoção da publicidade” até uma “sanção econômica” (ver aqui).

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.

A análise original está disponível no site do Chequeado aqui.