#DebateEnRedes: Em meio à denúncia de estupro contra Alperovich, #NoNosCallamosMás tornou-se uma tendência
Por Ariel Riera, Celeste Gómez Wagner e Mariela García
Atualizado em 27 de dezembro, 2019 às 4:29 pm
Se você tem só alguns segundos, leia estas linhas:
- A sobrinha do senador de Tucumán pela FPV denunciou-o perante a Justiça por abuso e espalhou uma carta aberta com a hashtag “#NoNosCallamosMás” (“Não nos calamos mais”), que se tornou uma tendência.
- Um tuíte de Alperovich foi o mais comentado, com os usuários chamando-o de “estuprador” e pedindo sua renúncia.
- Nas 24 horas seguintes à divulgação da carta, 62 mil mensagens foram compartilhadas no Twitter.
Na última sexta-feira ao meio-dia foi conhecida uma denúncia contra o atual senador da Frente pela Vitória (FPV) em Tucumán, José Alperovich. A sobrinha do ex-governador dessa província publicou uma carta aberta no jornal La Gaceta de Tucumán dizendo que seu tio havia violentado sua “integridade física, psicológica e sexual” durante um ano e meio.
A carta foi difundida com a hashtag “#NoNosCallamosMás” (“Não nos calamos mais”), que se tornou um dos trending topics do dia, e motivou a conversa nas redes sociais. A internet propagou a notícia e, por exemplo, na Wikipédia, o termo “estuprador” foi rapidamente adicionado à descrição do senador, algo que logo foi apagado (veja aqui).
O Chequeado analisou a conversa nas redes sociais, via Trendsmap. Do meio-dia de sexta-feira, 22 de novembro (quando a carta foi divulgada) até 24 horas depois, 62 mil mensagens foram compartilhadas no Twitter. Nas primeiras três horas (entre as 12h00 e as 15h00 de sexta-feira) foram compartilhadas 13.300 mensagens sobre este tema. Quanto às interações por província, destaca-se Tucuman, onde as conversas relacionadas a Alperovich dominaram a rede.
A hashtag com a qual a carta da sobrinha do senador foi tornada pública foi a mais utilizada nos tuítes sobre o assunto (16,2%). Seguiram-se: “#alperovich” (6,7%), “#tocaunetocantodes” (“Mexeu com uma, mexeu com todas”, com 1,9%) e “#justicia” (“justiça”, com 1,9%). As palavras mais incluídas nos tuítes foram: “Alperovich” (83%), “sobrinha” (35%), “José” (26%), “estupro” (22%) e “denúncia” (14%). Vale ressaltar que as mensagens também usaram palavras que deram início às agressões, como “estuprador”, “estupro”, “monstro” (a forma como a sobrinha se referia a Alperovich em sua carta), “abuso” e “estuprou”.
Os tuítes mais compartilhados foram de contas voltadas ao oficialismo. O com maior ranking foi o do jornalista e escritor @nachomdeo (Nacho Montes de Oca) que se referia aos privilégios parlamentares do senador em relação à da denúncia, e se perguntava sobre a posição que o “feminismo K” tomaria. O tuíte teve mais de 2 mil compartilhamentos.
Tuíte: Com uma denúncia de estupro contra ele, o Senado tem de decidir se defende ou não a imunidade de Joseph Alperovich. E o feminismo K tem que decidir tomar uma posição desconfortável para o seu habitual estrabismo.
O ranking continuou com uma mensagem de Diego Álzaga Unzué (@atlanticsurff), conta que o Reverso provou, em outras ocasiões, ter espalhado informações falsas. O usuário compartilhou uma mensagem criticando figuras próximas ao kirchnerismo. Ele disse: “Que horas vão sair o Kirchnerismo, Nancy Dupláa, Verónica Llinás, Rita Cortese, Dolores Fonzi, Ofelia Férnandez e outros ‘paladinos’ da justiça para pedir a demissão de Alperovich por causa da denúncia feita por sua sobrinha? Ah, esse estupro é bom? Foi mal”.
A terceira mensagem mais compartilhada foi lançada pelo usuário Beto Hanalfa (@hanalfabeto), que tem 104 mil seguidores e atividade desde 2010. Ele também fez referência à forma como a força política que compõe o senador acusado iria lidar com a denúncia. O tuíte apontou contradições e disse: “-Denunciaram Darthés como um estuprador / -Que ele apodreça na prisão!/ -Alperovich também/ -Ehhhh… é mais complexo”.
Por outro lado, a conta oficial do senador (@JAlperovichOk) publicou a mensagem que obteve mais respostas. O tuíte foi fortemente criticado por incluir o nome da vítima, algo que era evitado para proteger a sua identidade. A mensagem teve 2 mil respostas. Vale destacar também que nas primeiras três horas de análise, como o senador ainda não tinha publicado nada sobre o assunto, os usuários comentaram na última publicação que ele fez, apesar de se referir a outro assunto. Muitas respostas foram pedidos da sua renúncia ou comentários onde ele foi chamado de “estuprador”.
Outro dos tuítes mais respondidos foi o de Victoria Donda, deputada nacional eleita pela Frente de Todos, no qual ela disse que o senador deveria “tirar uma licença até que a justiça determine sua responsabilidade”. A deputada foi criticada por não ter pedido a remoção de seus privilégios (por exemplo, veja aqui) ou a renúncia por ser uma figura do mesmo espaço político. Ontem à tarde Alperovich pediu uma licença no Senado da Nação.
Além da conta do senador, a do Coletivo de Atrizes (@actrices_arg) foi um dos mais ativos no assunto. A conta compartilhou a notícia, usando a hashtag “#NoNosCallamosMas”.
O Chequeado também analisou a repercussão deste tema no Facebook, embora com a limitação de dados apenas de contas públicas e oficiais (páginas de fãs). Em 6 horas (11 a 17 horas), 102 publicações foram compartilhadas, gerando um total de 37.355 interações.
A publicação com mais interações foi da página de fãs do canal TN que anunciava a denúncia e direcionava para uma nota em seu portal. A publicação continha uma foto do senador e um fragmento da carta que sua sobrinha divulgou com detalhes explícitos dos abusos denunciados. Esta publicação teve como reação mais escolhida a “Grr” (3,9 mil).
Alperovich havia se envolvido anteriormente em condutas que foram criticadas pelo coletivo feminista, por exemplo, pelos comentários sexistas que ele fez à jornalista Carolina Servetto em uma entrevista. Neste caso, no entanto, se trata de uma denúncia formal e, como os abusos teriam ocorrido em Tucumán e Buenos Aires, foi apresentada nos tribunais locais e também na Unidade Fiscal Especializada em Violência contra a Mulher (UFEM) de Buenos Aires, respectivamente. Ontem, a sobrinha de Alperovich ratificou a denúncia e ampliou o seu depoimento perante o Poder Judiciário.
*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.
A análise original está disponível no site do Chequeado aqui.