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#DebateEnRedes: como são discutidos os protestos do Chile pelo Twitter na Argentina?

Por Celeste Gómez Wagner e Mariela García

Atualizado em 28 de janeiro, 2020 às 4:06 pm

Se você tem só alguns segundos, leia estas linhas:

  • O pico de tuítes ocorreu no dia da manifestação em frente ao consulado chileno na Argentina.
  • Uma das mensagens mais retuitadas foi publicada pela Ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich.
  • As hashtags mais utilizadas foram #chile, #repudio, #ChileDesperto e #EstoPasaEnChile.

Desde sexta-feira passada, várias cidades do Chile estão em estado de emergência após uma série de protestos, que, apesar de terem começado pelo aumento da passagem do metrô de Santiago, resultaram em diversas reivindicações sociais. Até agora houve 18 mortes, como informou Rodrigo Ubilla, Subsecretário do Interior do Chile, na última quarta-feira (veja aqui).

No sábado, 19 de outubro, à meia-noite, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou em cadeia nacional a declaração de um “Estado de Emergência”. De acordo com as disposições da Lei Orgânica Constitucional dos Estados de Exceção (art. 3), o general Javier Iturriaga del Campo foi nomeado o encarregado.

Em meio a uma agenda marcada pelas eleições de 27 de outubro, a Argentina também repercutiu a situação. Em 21 de outubro, um protesto contra o governo de Piñera aconteceu em frente ao consulado chileno, localizado a poucos metros da Praça de Maio, na Av. Roque Sáenz Peña, 547. Houve incidentes entre as forças de segurança e um grupo de manifestantes que jogaram coquetéis Molotov e espancaram jornalistas da LN+, Crónica TV e A24.

As redes sociais também foram palco da discussão sobre como analisar e compreender a situação no Chile. Aqui está uma análise das interações no Twitter, baseada na metodologia desenvolvida pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP).

Da meia-noite do dia 19 à meia-noite do dia 23 de outubro, os usuários do Twitter na Argentina compartilharam 36 mil tuítes sobre o Chile, dos quais 94% foram retuítes.

Embora a frequência de publicações tenha permanecido estável, o pico ocorreu no dia 21 entre 23h30 e 23h40, dia do protesto em frente ao consulado chileno em Buenos Aires. Depois disso, o volume de interação diminuiu. As três mensagens mais bem classificadas em número de retuítes foram publicadas naquele dia.

Uma delas era da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich (@PatoBullrich), que se desentendeu com a deputada nacional da Frente por la Vitória (Frente pela Vitória, FPV), Gabriela Cerruti (@gabicerru). Cerruti tinha publicado um tuíte no qual considerava que os conflitos no Chile e no Equador não ocorrem na Argentina graças às eleições de 27 de outubro. A Ministra da Segurança respondeu que a oposição “quer uma Argentina incendiada, dividida e violenta”, e depois se referiu à Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), liderada por Juan Grabois, como suposto participante da “agressão ao consulado chileno”. Esse segundo tuíte da funcionária do Cambiemos (Vamos Mudar) obteve 5.430 retuítes e foi salvo 12.585 vezes, ficando em segundo lugar no número de compartilhamentos.

No topo do ranking dos retuítes ficou uma mensagem de Manuel Adorni (@madorni), economista e colunista da Infobae e outros meios de comunicação. O tuíte foi em “apoio às forças de segurança” depois da agressão de uma pessoa que jogou um coquetel Molotov durante um protesto no consulado chileno. Em seu tuíte, Adorni compartilhou um trecho da transmissão ao vivo do canal C5N. Atingiu 5.099 compartilhamentos e 13.627 curtidas.

Tuíte: Foi assim que um deficiente mental jogou um coquetel Molotov contra a polícia durante o protesto perto do Consulado do Chile na Argentina. Temos de identificá-lo e mandá-lo para a prisão perpétua. Não quero mais nenhuma agressão às forças de segurança. Todo o meu apoio às forças de segurança.

A terceira mensagem mais retuitada foi a do usuário “quebracho castaña” (@QCastana), um usuário que está ativo desde outubro de 2018 e tem 5.425 seguidores. No tuíte, foram vinculadas as prisões no protesto em frente ao consulado ao Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN) da Venezuela. A mensagem atingiu 3.391 retuítes e foi salva 4.786 vezes.

Por outro lado, entre as hashtags mais utilizadas nos tuítes publicados na Argentina para se referir à situação no Chile, destaca-se #Chile, #Repudio, #ChileDesperto, e #EstoPasaEnChile. Além disso, 47% das mensagens continham a palavra “Chile” e 20% incluíam também as palavras “consulado”, “polícia” e “segurança”. Isso coincide com o fato de que as mensagens mais compartilhadas se referiam ao protesto que ocorreu em Buenos Aires.

Por fim, entre as contas mais ativas e as que geraram o maior nível de interação, pode-se destacar a da senadora da FPV Anabel Fernández Sagasti (@anabelfsagasti), que publicou imagens de um comício em Mendoza em “solidariedade ao povo chileno” e denunciando “a violência perpetrada por ordem do governo provincial”. Assim como a conta de “La Chica Del Pañuelo Verde” (@CaritoMorales04), usuária do Twitter desde 2012 que tem 4.109 seguidores e é normalmente mencionada em publicações sobre feminismo (veja aqui e aqui); e “PIENSA.PRENSA” (@PiensaPrensa), um meio de comunicação chileno que se define como independente e autogerenciado, e que tem mais de 110 mil seguidores.

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina

A análise original está disponível no site do Chequeado aqui.