23 dez

#DebateEnRedes: Como nas ruas, o Twitter foi o cenário da rejeição à reforma da lei que regulamenta a mineração em Mendoza

Por Mariela García

Atualizado em 23 de janeiro, 2020 às 10:58 am

Se você tiver apenas alguns segundos, leia estas linhas:

  • Destacaram-se as hashtags #ElAguaDeMendozaNoSeNegocia (“A água de Mendoza não se negocia”) e #La7722NoSeToca (“Não se toca na 7722”), com as quais os usuários mostraram o seu descontentamento com as alterações aprovadas pela Legislatura provincial.
  • Foram mais de 67 mil tuítes em três dias sobre este tema.
  • Uma mensagem do governo de Mendoza foi a mais respondida, mas todos os comentários foram críticos em relação à modificação da legislação.

Desde ontem, está ocorrendo uma marcha em massa em Mendoza contra a modificação da Lei 7.722, que proíbe o uso de substâncias tóxicas na mineração. A chamada começou em San Carlos, uma cidade do Vale de Uco, e depois de passar por vários locais e agregar adeptos, chegou hoje à capital da província na parte da manhã. Ali, os habitantes exigem diante da Casa de Governo que o governador, Rodolfo Suárez (UCR), não promulgue as mudanças que ele mesmo promoveu e que foram votadas na Legislatura na última sexta-feira.

Apesar dos protestos, que incluíram bloqueios de estradas em diferentes partes da província, os legisladores aprovaram a modificação da legislação com 29 votos a favor e 7 contra no Senado; e 36 a favor e 11 contra por parte dos Deputados. O projeto do oficialismo contou com os próprios votos e os do peronismo de Mendoza.

Em detalhes, a lei “torna o uso de produtos químicos como cianeto e ácido sulfúrico na mineração mais flexível” e “proíbe apenas o mercúrio”, afirma o parlamento provincial em seu site. No entanto, os moradores avisam que há risco de contaminação da água (ver aqui e aqui).

Guillermo Carmona, deputado nacional da província de Mendoza com o mandato cumprido e presidente do Partido Justicialista da província, disse no Twitter: “Em vista da ampla e crescente expressão popular contra a sanção da reforma da lei 7722 promovida por você, peço-lhe, governador @rodysuarez, que a mesma não seja promulgada”.

Tuíte: Em vista da ampla e crescente expressão popular contra a sanção da reforma da lei 7722 promovida por você, peço-lhe, governador @rodysuarez, que a mesma não seja promulgada #NoALaPromulgacionReforma7722 (“Não à promulgação da reforma 7722”)

Vale ressaltar que tudo isso aconteceu em um momento em que alguns usuários do Twitter criticavam também o governo nacional, sobre a discussão da Lei de Solidariedade Social e Reativação Produtiva que ocorria no Senado. O projeto que os deputados enviaram ao Senado previa uma redução da retenção sobre petróleo e mineração.

Com este cenário, o Chequeado analisou as repercussões da reforma de Mendoza no Twitter desde sexta-feira, 20 de dezembro às 10h até o mesmo horário na segunda-feira, 23 de dezembro. Nesse período, houve 67.200 tuítes e o número máximo de interações foi registrado ontem às 23h, quando foram publicadas até 240 mensagens por minuto.

Atividade no Twitter sobre a reforma da Lei 7722 em Mendoza

Os dados referem-se à atividade no Twitter entre as 10h de sexta-feira, 20 de dezembro, e o mesmo horário na segunda-feira, 23 de dezembro. Os números mostram a quantidade de tuítes na Argentina a cada trinta minutos.
Fonte: Elaborado pelo Chequeado com base na busca de palavras-chave no Trendsmap

As duas hashtags mais utilizadas foram #ElAguaDeMendozaNoSeNegocia (“A água de Mendoza não se negocia”, com 41%) e #La7722NoSeToca (“Não se toca na 7722”, com 32,1%) e as palavras mais repetidas foram “mendoza” (55%), “água” (36%), “cianeto” (24%), “povo” (22%), “mineração” (19%) e “marcha” (14%).

Como aconteceu em torno do debate no Twitter sobre a Lei de Solidariedade Social e Reativação Produtiva, uma mensagem de um representante da esquerda foi a que mais conseguiu retuítes. Foi Gabriel Solano, legislador da Frente de Izquierda de los Trabajadores / Partido Obrero e ex-candidato a chefe de governo de Buenos Aires, que disse na sexta-feira: “O kirchnerismo é assim: cria um ministério do meio ambiente, mas ao mesmo tempo vota em Mendoza uma lei junto com a UCR que permite a mineração com cianeto e ácido sulfúrico. No final, é um ministério da contaminação”. Recebeu 4.722 retuítes e 17.297 curtidas.

A mídia se juntou ao debate sobre a reforma da Lei 7722. No programa Pasaron Cosas (Rádio Con Vos – FM 89.9), conversaram na última sexta-feira com o advogado Enrique Viale sobre a Associação Argentina de Advogados Ambientalistas, e o tuíte com o áudio da nota foi o segundo mais mencionado no período analisado.

Seguiu-se uma mensagem da Agência de Notícias Red-Acción (ANRed), que se define como “mídia comunitária, alternativa e popular”, que compartilhou um vídeo da mobilização. “A caravana em defesa da água e da vida em Mendoza continua. A coluna passa por Tunuyán, onde milhares de pessoas se uniram para repudiar a modificação da Lei 7722, que permite o uso de cianeto e outros elementos na mega-mineração”, disse ele.

Um tuíte do Clarín (@clarincom) e outro da mídia local MDZ online (@mdzol) ficaram em primeiro e quarto lugar, respectivamente, entre as publicações mais influentes, graças ao número de seguidores. Em segundo ficou uma mensagem retuitada pelo ator Facundo Arana, e em terceiro ficou a de Fernando ‘Pino’ Solanas, antigo senador e recentemente nomeado embaixador na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Por outro lado, a voz oficial do Governo de Mendoza postou a mensagem mais respondida, mas todos os comentários recebidos foram contra a modificação da legislação. “A reativação da mineração movimentará recursos de cerca de 349.234 milhões de dólares. Estima-se que a atividade pode gerar 17.550 empregos durante a fase de construção de 6 projetos e outros 39.240 na fase de produção”, disse a conta oficial @MendozaGobierno em um tuíte publicado no último domingo depois das 18h30. Embora a conta não tenha a verificação do Twitter, ela está vinculada ao site http://www.mendoza.gov.ar/.

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.

A análise original está disponível no site do Chequeado aqui.