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#DebateEnRedes: As agressões contra jornalistas argentinos na Bolívia motivaram 50 mil tuítes em 24 horas

Por Ariel Riera, Celeste Gómez Wagner e Mariela García

Atualizado em 27 de dezembro, 2019 às 12:42 pm

Se você tem só alguns segundos, leia estas linhas:

  • Um grupo de cronistas teve que se refugiar, na última quinta-feira, na Embaixada Argentina de La Paz depois de ser ameaçado e agredido nas ruas.
  • Um dos tuítes mais compartilhados foi o de Patricia Bullrich, que agradeceu o trabalho da Gendarmaria, que “trouxe segurança” aos jornalistas.
  • A hashtag #JodansePeriodistas foi um trending topic e foi usada para criticar o jornalismo por receber ajuda da Gendarmaria depois de duvidar de suas ações no caso Maldonado.

A ruptura institucional que a Bolívia vem sofrendo desde o golpe de Estado ocorrido no domingo, 10 de novembro, ganhou um novo capítulo. Um dia depois que o projeto de lei para declarar o repúdio ao golpe foi aprovado no Senado argentino, jornalistas locais e estrangeiros foram ameaçados pela ministra boliviana de Comunicação, Roxana Lizárraga. O Chequeado analisou a repercussão deste tema nas redes, via Trendsmap e Newswhip. Aqui estão as principais conclusões.

Como Lizárraga disse à imprensa, o governo “de transição” liderado por Jeanine Áñez Chávez acusará “jornalistas ou pseudojornalistas” de sedição. Isto significa, de acordo com o artigo 123 do Código Penal boliviano, que aqueles que “se levantarem publicamente em aberta hostilidade para depor contra qualquer funcionário ou empregado público, impedir sua posse ou opor-se ao cumprimento das leis, (…) ou perturbar a ordem pública de qualquer outra forma” poderiam ser punidos com um a três anos de prisão.

Na quinta-feira, jornalistas e cinegrafistas de vários meios de comunicação argentinos foram atacados por manifestantes que apoiam a renúncia de Morales e defendem a autoproclamada presidente Áñez. Alguns cronistas até apareceram em publicações das redes sociais com nome e sobrenome. Os profissionais tiveram que ser evacuados pela Gendarmaria argentina e se refugiaram na embaixada.

Enquanto isso, na última sexta-feira de manhã, Lizárraga foi entrevistada pelo jornalista Ernesto Tenembaum na Radio Con Vos, onde ela disse que as ameaças e agressões denunciadas eram “totalmente falsas”.

O Chequeado analisou a atividade no Twitter sobre este assunto desde quinta-feira, 14 de Novembro, às 14h00, até sexta-feira, 15 de Novembro, no mesmo horário, quando, por meio de uma operação da Ministra da Segurança Patricia Bullrich, os jornalistas atacados chegaram ao país.

O pico de interações ocorreu na quinta-feira às 19h20, após as agressões contra os jornalistas serem divulgadas. Nesse momento, um tuíte de Iván Schargrodsky, jornalista do C5N e da Radio 10, foi um dos mais compartilhados. A mensagem citava o embaixador do país na Bolívia, Normando Álvarez García, pedindo aos argentinos que não fossem, que “não há garantias para ninguém”.

Interações no Twitter sobre os jornalistas argentinos na Bolívia

Gráfico elaborado com base nas interações no Twitter sobre os jornalistas argentinos na Bolívia, das 14h00 do dia 14 de novembro até o mesmo horário do dia seguinte. Via Trendsmap.

Via Trendsmap, o Chequeado detectou que, nesse período, 51.100 tuítes foram compartilhados sobre o assunto e que as hashtags mais utilizadas foram #bolivia (9,4%), #jodanseperiodistas (“que se fodam os jornalistas”, com 4,8%, veja abaixo), #golpedeestadoenbolivia (“golpe de estado na Bolívia”, com 2%), #Telefe (já que o jornalista Mariano García, desse meio de comunicação, foi um dos atacados após sua entrevista com o líder da oposição boliviana Luis Fernando Camacho) e #macriabreelparaguas (“Macri, abra o guarda-chuva”, com 1,8%, hashtag promovida pelo C5N). Além disso, as palavras mais mencionadas nas mensagens do Twitter foram “Bolívia” (91%), “jornalistas” (61%), “argentinos” (33%), “golpe” (25%) e “argentina” (21%).

A mensagem mais compartilhada foi a do ex-presidente boliviano Evo Morales que, do México, advertiu que há um “estado de fato” em seu país porque, entre outras coisas, “a ‘ministra’ de Comunicação da autonomeada ‘presidente’ da Bolívia ameaça prender por sedição jornalistas que relatam repressão”. Obteve 13,5 mil retuítes e mais de 27 mil curtidas.

Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina emitiu um comunicado no qual informa que “solicitou às autoridades no exercício do poder da Bolívia que zelassem pela segurança e integridade física dos meios de comunicação argentinos presentes em território boliviano, trabalhando na cobertura de eventos de conhecimento público”. O link para esta publicação destacou-se entre todos os tuítes que compartilharam alguma URL em suas mensagens.

O Ministério da Segurança realizou uma operação para que as equipes da América 24, Crónica TV, Telefe Noticias e TN pudessem retornar ao país. No Twitter, a segunda mensagem mais compartilhada foi a da Ministra Bullrich, que agradeceu à Gendarmaria por resgatar e salvar “os jornalistas argentinos ameaçados” na Bolívia.

Tuíte: Resgatamos os jornalistas argentinos ameaçados na #Bolívia, Obrigado @gendarmería pelo compromisso permanente.

A conta mais ativa foi o canal de notícias C5N (@C5N). Seguiu-se a do Ministro da Segurança Nacional e a do usuário Ulises Chaparro (@vivirporboca), que tem mais de 16 mil seguidores e que geralmente publica mensagens a favor de Mauricio Macri e seu espaço político.

Além disso, as contas mais influentes, ou seja, com maior destaque pelo número de seguidores, também foram os meios de comunicação: os perfis do C5N, do Clarín e do Crónica. Os jornalistas dos dois últimos estavam entre aqueles que se refugiaram na embaixada argentina na Bolívia. Por outro lado, via Newswhip, o meio de comunicação registrou que tanto a publicação com mais interações no Facebook quanto o vídeo com mais visualizações no YouTube sobre este assunto também foram compartilhados por outra mídia: a Telefe Noticias.

#JodansePeriodistas

A ajuda da Gendarmaria aos jornalistas argentinos motivou debates entre usuários do Twitter. Observando apenas a hashtag #JodansePeriodistas, ela apareceu em 15.200 tuítes no período analisado. Os usuários que utilizaram esta hashtag consideraram que os cronistas não deveriam ter aceitado a ajuda da Gendarmaria por causa das dúvidas que parte do jornalismo tinha sobre as ações da força de segurança no caso de Santiago Maldonado, o jovem artesão que faleceu em Cushamen, em Chubut, após uma operação em agosto de 2017. De fato, a palavra “maldonado” estava presente em 15% dos tuítes que incluíam a hashtag analisada.

As contas mais retuitadas com esta hashtag foram as já mencionadas @Vivirporboca e @elcara333. Esta última conta tem 11 mil seguidores e menciona em seu perfil “#MacriPicheto2023, #Vidal2023 #PatoBullrich2023 e quero ver a vice e sua filha Florencia na cadeia”.

Estes dois perfis e @labelgrana (quem tem mais de 34 mil seguidores e mensagens a favor da Cambiemos) foram os mais ativos no Twitter em torno da hashtag #JodansePeriodistas.

Vale ressaltar que todas as três contas registraram aumentos em seus seguidores desde agosto, época das eleições primárias, conforme sugere o Trendsmap. Neste período, @Vivirporboca cresceu de 7 mil para 16 mil seguidores; @elcara333, de 6 mil para 11 mil; e @labelgrana, de 27 mil para 34 mil.

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.

A análise original está disponível no site do Chequeado aqui.