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#DebateEnRedes: 38% dos tuítes na Argentina sobre a Bolívia incluíram a palavra “golpe”

Por Ariel Riera, Celeste Gómez Wagner e Mariela García

Atualizado em 27 de dezembro, 2019 às 11:41 am

Se você tiver apenas alguns segundos, leia estas linhas:

  • As mensagens do ex-presidente da Bolívia e de Alberto Fernández foram, de longe, as mais compartilhadas, citadas e respondidas.
  • #BoliviaUnida, a hashtag proposta pelo opositor Luis Fernando Camacho, só foi usada em 11.144 dos mais de 2 milhões de tuítes registrados entre 20 de outubro e 11 de novembro.
  • Houve duas comunidades principais no Twitter, uma em torno da conta de Morales e outra em torno da conta do jornalista Nacho Montes de Oca.

Em 20 de outubro, ocorreram na Bolívia as eleições nas quais o atual presidente, Evo Morales (Movimento para o Socialismo – MAS), que precisava de mais de 10 pontos para evitar um segundo turno, foi eleito com 10,57 pontos acima de seu concorrente, segundo dados oficiais. Nesse dia, a transmissão dos resultados oficiais foi interrompida quando a diferença era menor, e a Organização dos Estados Americanos (OEA) expressou “preocupação e surpresa pela mudança drástica e difícil de justificar” nos resultados. Morales concordou em auditar as eleições e, diante das irregularidades apontadas pela OEA, convocou ontem novas eleições. No entanto, diante da pressão das Forças Armadas, ele anunciou sua renúncia.

Para observar o impacto disso na Argentina, o Chequeado analisou, via Trendsmap, as interações no Twitter registradas no país das 8h da manhã do domingo, dia 20 de outubro de 2019, até segunda-feira, 11 de novembro de 2019, no mesmo horário.

No total, 2.228.900 publicações relacionadas à situação política boliviana foram compartilhadas no Twitter. A visibilidade do caso veio com o golpe de Estado, já que mais de 40% das publicações ocorreram a partir de 10 de novembro às 18 horas, minutos após a coletiva de imprensa em que Morales anunciou sua renúncia à presidência. Um total de 3.400 mensagens por minuto foram publicadas nesse período. Nas 24 horas seguintes às eleições, por outro lado, menos de 25.000 tuítes foram publicados.

Quantidade de tuítes relacionados com a atual situação política na Bolívia

Fonte: Elaborado pelo Chequeado com base no número de tuítes relacionados aos eventos atuais na Bolívia, das 8h da manhã do dia 20 de outubro de 2019 às 8h da manhã do dia 11 de novembro de 2019. Os dados do Trendsmap são organizados por períodos de 3 horas.

Na conversa, 48% dos tuítes incluíram a palavra “Bolívia”; 30% “moral”; 22% “golpe”; 19% “estado”; e 13% “povo”. Enquanto isso, as cinco hashtags mais usadas foram “#Bolivia”, “#EvoNoEstasSolo” (Evo, você não está sozinho), “#GolpeDeEstadoEnBolivia” (Golpe de estado na Bolívia), “#EvoPresidenteLegitimo” (Evo presidente legítimo) e “#urgente”. A hashtag “#BoliviaUnida”, promovida por Camacho a partir de sua conta, só foi usada em 0,4% dos tuítes. Se forem observadas apenas as publicações após o anúncio da renúncia de Morales, 38% falaram do “golpe”.

As interações sobre a situação da Bolívia no Twitter na Argentina foram divididas principalmente em duas comunidades separadas. Por um lado, houve aqueles que interagiram com a conta oficial de Evo Morales (@evoespueblo), a do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández (@alferdez), e a conta do cientista político Juan Manuel Karg (@jmkarg). Em outro espaço da rede, em vez disso, o centro foi o jornalista e escritor Nacho Montes de Oca (@nachomdeo), seguido pela conta voltada ao oficialismo @elcoya1977 e a do presidente da Fundação LIBRE Agustín Laje (@AgustinLaje).

Fonte: Elaborado pelo Chequeado com base nos tuítes sobre os eventos atuais na Bolívia, das 8h da manhã do dia 20 de outubro de 2019 às 8h da manhã do dia 11 de novembro de 2019.

O foco do debate foi sobre apoiar ou não Evo e sobre a caracterização dos fatos. A mesma coisa aconteceu na discussão pública. Alberto Fernández expressou sua solidariedade a Evo e denunciou um “golpe”. Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina emitiu um comunicado de imprensa pedindo para “preservar a paz social e o diálogo” em torno do que considerava ser um “período de transição que foi aberto através dos canais institucionais estabelecidos pela Constituição desse país”.

Ontem à noite, às 22h29, Morales publicou uma mensagem na qual alertava sobre o mandado de prisão contra sua pessoa que havia sido anunciado por um policial. Ele também mencionou que “grupos violentos” invadiram sua casa. “Os golpistas destroem o Estado de Direito”, enfatizou ele. Seu tuíte conseguiu 76.066 retuítes e foi salvo 137.832 vezes, sendo o mais compartilhado sobre o tema na Argentina.

Denuncio ao mundo e ao povo boliviano que um policial anunciou publicamente que está instruído a executar um mandado de prisão ilegal contra mim; além disso, grupos violentos invadiram minha casa. Os golpistas destroem o Estado de Direito.

— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) 11 de novembro de 2019

Em segundo lugar ficou a rejeição de Alberto Fernández ao “golpe de Estado resultante da ação conjunta de civis violentos, policiais autoaquartelados e a passividade do exército”. A mensagem do presidente eleito, feita às 20h05 de ontem, chegou a 22.237 retuítes e 51.507 curtidas.

Dentro da outra comunidade, Montes de Oca acompanhou os eventos da Bolívia no Twitter durante todo o dia, com milhares de interações em vários de seus tuítes. Por exemplo, ele mencionou que o comando militar havia ordenado “o fechamento do espaço aéreo”, de acordo com “rumores”, devido a “riscos de fuga, aviões estrangeiros e fluxos de saída”, e conseguiu cerca de 2 mil retuítes e 4 mil curtidas.

A conta “el coya”, por outro lado, foi mais direta em sua oposição a Morales. Entre outras coisas, disse que eles estavam “detendo EVO MORALES!” algo que ele celebrou, e que “acabou toda essa farsa PROGRESSISTA de que foi um GOLPE DE ESTADO!” Esta publicação atingiu 1,7 mil retuítes e 4,7 mil curtidas.

De acordo com os dados do Trendsmap, a conta de Fernández ficou em primeiro lugar entre as mais respondidas, mencionadas e retuitadas no período analisado. Em segundo lugar ficou o jornalista e escritor Nacho Montes de Oca (@nachomdeo), seguido por Rosario Agostini, jornalista de Jujuy (@peponila); e Waldo Wolf (@WolffWaldo), deputado nacional da Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança).

*A Sala de Democracia Digital é uma ação da FGV DAPP, em parceria com Chequeado, na Argentina, Linterna Verde, na Colômbia e Ojo Público, no Peru. Nós monitoramos o debate público nas redes sociais pela América Latina.

A análise original está disponível no site do Chequeado aqui.