Coronavírus: primeiro caso confirmado no Brasil gera nova epidemia de debate (e medo) nas redes sociais
Em menos de 48 horas, brasileiros citam a doença mais de 1 milhão de vezes no Twitter, do o quarto país de maior volume de debate
Atualizado em 9 de março, 2020 às 5:00 pm
Em menos de 48 horas, brasileiros citam a doença mais de 1 milhão de vezes no Twitter, em somatório de 3,3 milhões de referências ao coronavírus desde 15 de janeiro no país — no mundo, desde 20 de fevereiro já são mais de 15 milhões de tuítes, com o Brasil sendo o quarto país de maior volume de debate, segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP).
Twitter: Menções diárias ao coronavírus no Brasil
Período de análise: 15 de janeiro a 27 de fevereiro (12h)
No Facebook, desde janeiro já são mais de 31 milhões de interações em links compartilhados sobre o coronavírus — e no fim de fevereiro, com a confirmação do primeiro caso, em São Paulo, média diária de interações pula de 100 mil por dia para 2,7 milhões.
Restrição às fake news: no Facebook, nenhum dos 50 links de maior volume de compartilhamento desde 24 de fevereiro faz a divulgação de conteúdos conspiratórios ou falsos sobre o avanço da epidemia, com presença total de veículos da imprensa tradicional entre as publicações de maior alcance.
DEBATE NO TWITTER
Dois grupos principais organizam o debate no Twitter: um, com 34% das interações (rosa, no mapa abaixo), é formado por cidadãos comuns que abordam o coronavírus de forma sobretudo irônica, com piadas e associações ao carnaval; o outro (amarelo), com 17% das interações, é engajado pela imprensa oficial; de forma bastante rara nas redes sociais, grupos de esquerda e de direita apresentam baixa atuação no debate, rompendo a forte polarização na rede.
No pós-carnaval, brasileiros questionam capacidade de contenção do vírus, por parte do governo federal, pela queda de investimentos em pesquisa e ciência no país, e citam aumento nos casos de dengue e de sarampo, mencionados em mais de 150 mil tuítes.
Novo influenciador: frente à baixa atividade de políticos e influenciadores da direita ao discutir o coronavírus, pela primeira vez no cenário político brasileiro, desde o ano passado, o perfil oficial do Ministério da Saúde no Twitter foi o maior influenciador. O mesmo grupo afirma que a imprensa e a oposição usam o coronavírus para coibir as manifestações de 15 de março.
Geolocalização: São Paulo reúne 27% das menções, seguido por Rio de Janeiro (21%), Distrito Federal (13%), Minas Gerais (8%), Rio Grande do Sul (7%), Paraná (6%) e Pernambuco (4%). Brasília, portanto, é a cidade com maior concentração de postagens sobre a doença, mas a cidade do Rio tem (12%) mais publicações que a capital paulista (11%).
Medo e riscos de infecção: em 10% das menções no Brasil há referência direta, por parte dos perfis, à possibilidade de rápido contágio pela doença, ao medo de se infectar ou à necessidade de que haja maior precaução, como o uso de máscaras e de procedimentos para evitar aglomerações urbanas e pessoas com sintomas gripaisO impacto do carnaval: dezenas de grupos, com mais de 20% das interações totais do debate, satirizam o fato de que o primeiro caso confirmado no Brasil aconteceu durante a folia, potencializando contaminação, ou fazem piadas sobre a resistência do brasileiro ao vírus, após a crise hídrica no Rio, o consumo de álcool no feriado, as greves de policiais e os problemas crônicos de saneamento no país.
Twitter: Mapa de interações sobre o coronavírus no Brasil
Período de análise: 15 a 27 de fevereiro (12h)
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