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Bases partidárias de direita e de esquerda superam divisão regional em Rio de Janeiro e São Paulo

Atualizado em 3 de novembro, 2020 às 2:23 pm

  • Em busca de reprodução da estratégia digital de 2018, candidaturas à direita e à esquerda em Rio e São Paulo atuam juntas no Twitter, com Boulos, Arthur do Val e Luiz Lima em forte articulação com bases polarizadas para ganhar espaço eleitoral frente aos líderes de pesquisas;
  • Celso Russomanno e Marcelo Crivella recebem apoios discretos de base pró-governo federal e enfrentam desafios de engajamento positivo tanto no Twitter quanto em Facebook e Instagram;
  • Novo grupo intermediário de esquerda no Twitter tem Felipe Neto e Ciro Gomes interagindo com base de apoio a Martha Rocha, mas candidato pedetista em Fortaleza vê baixa interatividade no Twitter e no Facebook;
  • Em Recife, Marília Arraes e João Campos disputam capital digital da esquerda frente a frente em Facebook e Instagram, e em Salvador Cezar Leite e Bruno Reis se dividem em protagonismo entre ambas as plataformas;

Apesar da separação regional e das diferentes agendas partidárias e de políticas públicas, os grupos de atuação de candidaturas de direita e de esquerda em Rio de Janeiro e São Paulo, em grande medida, engajam-se a partir de grupos semelhantes no debate em redes sociais, de acordo com monitoramento da FGV DAPP das interações via Twitter ao longo das duas últimas semanas, entre 24 de setembro e 07 de outubro. Melhor plataforma para a identificação de bases de influência, a rede social apresenta, para ambas as cidades, contornos bastante diferentes em relação aos dados apontados pelas pesquisas de opinião, com Celso Russomanno e Eduardo Paes, os atuais líderes de intenções de voto, com baixa presença digital na rede até o momento.

O principal destaque é Guilherme Boulos, cujo núcleo de influência estende-se até às campanhas de Jilmar Tatto e Benedita da Silva, ofuscando ambas, e com a presença relevante de figuras do PSOL do Rio de Janeiro atuando no mesmo grupo — enquanto Renata Souza, candidata do PSOL na capital fluminense, persiste em grupo lateral da esquerda, sem a mesma ressonância. A esquerda apresenta ainda uma nova base emergente, capitaneada pelo PDT, para a campanha de Martha Rocha no Rio de Janeiro, com Márcio França, do PSB, também articulado a partir do mesmo grupo.

Outro destaque iminente é a expressiva atuação da base pró-governo federal, em ambas as cidades, para interlocução com as candidaturas de Russomanno (que, em si, pouco age como influenciador) e Crivella, mas que tem no deputado federal Luiz Lima, ainda com baixa presença de intenções de voto, o principal articulador digital. Perfis de longo alinhamento ao governo atuam reiteradamente para promover a campanha do ex-nadador, que se beneficia da menor inclinação da mesma base para endosso do nome do atual prefeito do Rio de Janeiro. 

A listagem dos principais influenciadores de ambos os polos evidencia, contudo, algumas diferenças geográficas, com o PDT e nomes próximos de apoio a Ciro Gomes, como Felipe Neto, com maior força no Rio de Janeiro, enquanto contas de impacto nacional à direita dividem-se entre as candidaturas em ambas as capitais. Também se destaca a presença de grupo particular de engajamento a partir do MBL, cuja campanha se articula sob o nome de Arthur do Val em São Paulo e não ressoa no estado vizinho.

No Facebook e no Instagram, Crivella é líder (de críticas)

A FGV DAPP coletou ainda, para São Paulo, Rio de Janeiro e outras 3 capitais do Nordeste, as interações obtidas pelas páginas oficiais das candidaturas em Facebook e Instagram, entre 21 de setembro e 05 de outubro, organizando um ranking de “capital digital” — ou seja, a média de engajamento de cada página, por plataforma, a partir do volume de postagens (engajamentos/post). No período, os candidatos das cidades analisadas publicaram 5123 postagens, sendo 3015 em suas páginas de Facebook e 2108 nos perfis do Instagram. O município com candidatos mais ativos foi São Paulo (1811 posts), seguido de Rio de Janeiro (1067), Fortaleza (964), Salvador (696) e Recife (585).

Somadas as duas redes, seis entre os dez candidatos com mais publicações disputam a prefeitura de São Paulo: Jilmar Tatto (PT), com 304; Guilherme Boulos (PSOL), com 290; e Joice Hasselmann (PSL), com 220, ocupam as três primeiras colocações. O sexto lugar é ocupado por Arthur do Val (DEM), com 174 posts; o oitavo, por Márcio França (PSB), com 146; e o décimo, por Orlando Silva (PCdoB), com 132 postagens. Disputando a prefeitura do Rio de Janeiro, a candidata do PSOL, Renata Souza, é a quarta colocada, com 190 publicações. A disputa pela prefeitura de Fortaleza é representada por Sarto Nogueira (PDT), quinto colocado, com 184 posts; e por Professor Anízio (PCdoB), em nono, com 143. Por fim, a candidata à prefeitura de Salvador, Olívia Santana (PCdoB), foi a sétima colocada, com 158 posts.

No Rio, críticas à gestão e apoio de Bolsonaro fazem disparar interações de Crivella

 

As interações realizadas nas páginas dos candidatos do Rio de Janeiro apresentam enorme disparidade em favor de Crivella, que recebe comentários e reações com força muito superior à dos concorrentes — mas isso, não necessariamente, é positivo. Uma análise das postagens com mais interações mostra que são dois os principais motivos para o descolamento. Por um lado, o candidato mobiliza diversas menções ao apoio do presidente Jair Bolsonaro, utiliza seu slogan de campanhainterage com familiares, como a mãe de Carlos, Eduardo e Flávio, Rogéria Bolsonaro. Nessas postagens, predominam comentários de apoio à sua reeleição. Houve, também, posts em que predominaram mensagens críticas como em uma imagem com a mensagem de que “vale a pena ser honesto”. Esta foi a mensagem com o maior número de interações em todo o período. O mesmo movimento é observado em sua conta no Instagram, em que os posts do Facebook são simplesmente replicados, sem adequações específicas para a rede social

Em São Paulo, líderes no meio digital ainda estão distantes nas intenções de voto

Em ambas as plataformas, Boulos e Arthur do Val são os dois principais destaques, com o objetivo de replicar a estratégia digital de 2018 e ganhar espaço eleitoral sobre os favoritos. Os dois reúnem as maiores médias de interações tanto no Facebook quanto no Instagram, obtendo, nesta última, distância considerável em relação ao alcance dos demais candidatos. Nas duas redes, os posts com maior número de interações do candidato  Arthur do Val apresentaram vídeos com suas falas no debate promovido pela Band. A principal postagem de Boulos também foi comum nas duas redes, repercutindo a visita que Boulos fez à casa de uma eleitora. Ou seja, nos dois casos, os principais conteúdos destacaram atividades de campanha.

Em relação a temas mais amplos, Arthur do Val mobiliza críticas aos impostos e à chamada “cultura da lacração” da esquerda. Já Boulos apostou em críticas a Bolsonaro, que foi mencionado em 23 posts em seu Facebook, número superior às menções a seus candidatos adversários, como Russomanno (que, ao contrário da maioria dos adversários, viu significativa queda semanal no engajamento via ambas as redes sociais).

Em Fortaleza, candidatura petista tem ampla vantagem sobre pedetistas nas redes

Os dois principais candidatos à prefeitura de Fortaleza, Capitão Wagner (PROS) e Luizianne Lins (PT) dividem o protagonismo nas redes sociais com o candidato Célio Studart (PV), que consta entre a 5ª e 6ª colocação nas pesquisas. O desempenho de Célio Studart é destacado especialmente no Instagram, onde por duas semanas consecutivas obteve média próxima de 4 mil interações. As principais postagens de Studart repercutiram proposta de governo, em especial, medidas de combate à violência contra os animais. Luizianne Lins e Capitão Wagner obtiveram maior interação em postagens que repercutiram atividades de campanha, como carreatas e presença em eventos — enquanto o pedetista Sarto, apesar do investimento digital, vê queda de impacto junto a seguidores em ambas as plataformas.

Já em Recife, ao contrário do que se identifica nas outras capitais pesquisadas, nas duas redes sociais houve tendência de queda nas interações entre a primeira e a segunda semana de análise. A candidata Marília Arraes (PT) obteve grande número de interações repercutindo resultados de pesquisas de intenção de voto em que aparece em primeiro lugar. Já João Campos (PSB) obteve repercussão destacada no Instagram, com publicações em que lançou candidatura e em uma fotografia com a deputada federal Tabata Amaral (PDT).

Por outro lado, em Salvador, verificou-se a maior disparidade entre lideranças virtuais no Facebook e Instagram. Na primeira, o candidato com maior média de interações foi Cezar Leite (PRTB), que impulsionou seu capital digital ao retransmitir edições do jornal “Foco do Brasil”, alinhado ao governo federal. Ou seja, seu desempenho no Facebook não está relacionado com ações de sua campanha, mas da promoção de conteúdos referentes ao governo federal. O primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, Bruno Reis (DEM), foi líder entre os candidatos com maior média de interações no Instagram. Diferente de Leite, as publicações de Bruno Reis com maior número de interações repercutiram ações de campanha, como uma carreata e trechos de sua participação no debate organizado pela TV Band.