Ação digital de influenciadores evangélicos tem predomínio em Instagram e Youtube, mas sem apoio a candidatos
Atualizado em 23 de outubro, 2020 às 2:20 pm
- Monitoramento da FGV DAPP pesquisou perfis e páginas de pastores, igrejas, parlamentares e lideranças evangélicas em Twitter, Facebook, Instagram e Youtube, entre 21 de setembro e 20 de outubro — em associação à discussão sobre as eleições nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, nem Celso Russomanno, nem Marcelo Crivella têm forte base de apoio por influenciadores religiosos em nenhuma das plataformas;
- Até o momento, é muito baixa, no cenário eleitoral de ambas as capitais, a presença direta de canais e páginas de influenciadores da base evangélica, que em geral é muito ativa no debate político e com impacto bastante superior ao de fontes católicas.
- No Youtube, contudo, influenciadores do conservadorismo católico e páginas de mensagens bíblicas atuam junto à base de apoio ao governo federal para fazer críticas, sobretudo, ao governador João Doria, em nacionalização do debate político;
- No Instagram, o debate eleitoral também é bastante nacionalizado em relação a São Paulo, mas nem tanto no Rio de Janeiro. Monitoramento de páginas de parlamentares da Bancada Evangélica mostra forte atuação de Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Bia Kicis em rejeição a Doria e, também, à candidata a prefeita de São Paulo, Joice Hasselmann (PSL).
- No Rio de Janeiro, ação digital de Benedita da Silva (PT) é exceção à esquerda, mas com baixo conteúdo de mote religioso, embora a deputada federal seja evangélica;
A agenda religiosa, conservadora e de costumes, para além da força nacional que exerce dentro do polarizado debate político brasileiro, é bastante destacada, nas redes sociais, a partir da presença de dois candidatos importantes nas eleições municipais em Rio de Janeiro e São Paulo. De um lado, há o atual prefeito e postulante à reeleição, Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. De outro, o deputado federal Celso Russomanno, líder das pesquisas de opinião em São Paulo até o momento, católico e de forte atuação parlamentar junto à pauta religiosa, embora não seja oficialmente membro da bancada evangélica. Contudo, ao contrário do que se espera, até o momento não se verifica, nas principais redes sociais do Brasil, expressiva atuação de influenciadores religiosos, em especial evangélicos, para apoio a Crivella ou Russomanno. Discretos na discussão eleitoral, pastores, padres, igrejas e páginas cristãs persistem afastados da agenda municipal, embora mantenham-se em estreito alinhamento à base de apoio ao governo federal.
Levantamento da FGV DAPP entre 21 de setembro e 20 de outubro buscou identificar a presença de influenciadores religiosos no debate público sobre as eleições municipais em São Paulo e no Rio de Janeiro em Twitter, Youtube, Facebook e Instagram. Para estas duas últimas, com a busca por publicações de páginas oficiais de membros parlamentares da bancada evangélica, à procura de atuação direta nas campanhas. E, apesar da baixa atuação, há exceções importantes e posições distintas entre as duas maiores cidades do país — em especial a atuação contínua do pastor Silas Malafaia, única liderança religiosa afiliada diretamente a uma igreja cujo canal foi identificado no mapa de debate político-eleitoral no Youtube.
No Twitter, a partir de uma base de 2,2 milhões de postagens no Twitter sobre as eleições no período, foram identificados apenas 3 lideranças de estrita associação religiosa entre os maiores influenciadores (os 3 na base de debate pró-governo federal e que se engaja em apoio, sobretudo, ao deputado federal Luiz Lima como candidato a prefeito do Rio de Janeiro): o próprio Crivella, o deputado federal Otoni de Paula, opositor do atual prefeito, e o deputado federal mineiro Cabo Junio, cuja presença é devida à nacionalização da agenda eleitoral, a partir da identificação de apoio a candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro.
No Youtube, católicos conservadores e canais bíblicos atuam em base pró-governo
Já no Youtube, principal plataforma de atuação de canais e perfis religiosos nas redes sociais, em especial evangélicos, é igualmente discreta a presença de influenciadores na discussão eleitoral, mas com impacto superior ao verificado no Twitter. Novamente integrantes da rede de disseminação de conteúdos alinhada ao governo federal, esses perfis atuam sobretudo na discussão de agendas conservadoras de âmbito nacional, como a oposição ao aborto e à vacinação obrigatória e em ataques à esquerda, identificada como potencial organizadora de mudanças morais, caso vença nos municípios.
Mapeamento de banco de dados com mais de 250 mil vídeos de conteúdo político e eleitoral, em mais de 15 mil canais, identificou apenas 11 canais de explícita associação religiosa sob o contexto das disputas em Rio e São Paulo — e, mesmo nesses casos, com discussões de âmbito nacionalizado, reposicionando a defesa do conservadorismo para as disputas municipais. O principal influenciador é o católico conservador do “filósofo” Canal Professor Bellei, alinhado ao núcleo olavista pró-governo, e cujos vídeos abordam principalmente as eleições nos Estados Unidos a partir do impacto para o Brasil, com um discurso anti-China agressivo — e é sob esse contexto que o canal integra forte rede de críticas ao governador de São Paulo, João Doria, e ao PSDB, partido do candidato à reeleição Bruno Covas.
No Instagram, São Paulo tem campanha anti-Joice, enquanto no Rio Benedita é destaque isolado à esquerda
A nacionalização do debate eleitoral também se verifica, de forma muito nítida, no Instagram. A partir da coleta de publicações de todos os parlamentares integrantes da bancada evangélica, sob o filtro das eleições municipais em ambas as capitais, a disputa em São Paulo mantém como protagonistas Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Bia Kicis — que integram a bancada evangélica, mas não são diretamente vinculados a denominações religiosas. Dentre as 50 postagens com maior volume de interações na plataforma associadas às eleições, 44 são de um dos 3 deputados, a partir de duas narrativas principais: críticas a Joice Hasselmann e menções negativas sobre Doria.
No Rio de Janeiro, contudo, a discussão é bem mais regionalizada, com muitos parlamentares em ativa campanha eleitoral para a região metropolitana da capital e a presença de uma única influenciadora evangélica à esquerda, a deputada federal petista Benedita da Silva, que disputa a prefeitura da cidade. Apesar de integrante da bancada evangélica, Benedita não tem discurso semelhante ao dos demais parlamentares do grupo e, mesmo no Instagram, não faz abordagem diretamente religiosa de agendas e pautas políticas. Outros nomes importantes do cenário político do Rio de Janeiro também são influenciadores na discussão, como a também candidata Clarissa Garotinho e o deputado federal Sóstenes Cavalcante. Outro destaque é a falta de apoio direto a Crivella por qualquer um dos 10 maiores influenciadores, dentre os quais consta a parlamentar Major Fabiana, que esteve perto de integrar a chapa do atual prefeito na condição de vice.